quarta-feira, 21 de junho de 2017

Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos


 (Capela dos Ossos em Évora, Portugal)

Os dias são de pesar, pesar nacional e de pesar pessoal. O País arde num incêndio sem precedentes, dezenas de pessoas perderam a vida num ápice. Sonhos desfeitos, expectativas que nos fazem questionar se realmente valeram a pena preocupações desmesuradas com coisas que, hoje, parecem comezinhas. Comezinhas porque na efemeridade da existência humana cada vez mais me contenho com irritações e outras contradições.
Se num momento a vida parece estar aos nossos pés, no outro um telefonema basta para saber que alguém perdeu a vida, que alguém nunca mais vai poder sentir o nosso abraço, sem um último adeus.
Com o ensejo secreto de morrer jovem, a velhice traduz-se numa das mais rotundas fragilidades com que hoje convivo. Ninguém merece sofrer. Hoje estive no Hospital e vi em desespero uma familiar que faz parte da minha história, em profunda agonia física e, quiçá mental. Não sei o que mais me dói, se tentar sentir a sua agonia, se desejar ardentemente um telefonema a dizer que ela partiu para um mundo que ninguém conhece, mas que desejo veementemente que seja melhor que este.
Por diversas vezes nesta vida me vi confrontada das mais duras formas com a efemeridade da vida humana, foram vários os telefonemas com trágicas mensagens que recebi. Se de umas pessoas tive tempo de dizer adeus, de outras não posso dizer o mesmo. Ainda assim, quando se morre e pronto, a efemeridade vem ao de cima. Quando o meu Irmão partiu não houve tempo para despedidas. O ontem não anteviu o amanhã, não houve tempo de preparação, se é que isso existe quando se vê alguém partir. O mesmo sucedeu com o meu melhor amigo, de quem nem sequer vi o corpo, tal foi o trágico estado em que ficou. Deste restou a consolação de saber que de um segundo para o outro a sua vida se esfumou. Com o meu Pai foi diferente. A doença consumiu-o lentamente até lhe retirar todas as forças do corpo, de um corpo dopado com morfina que o libertou da agonia dos últimos meses. Estou certa de que foi mais duro para mim do que para Ele... felizmente!
Pior do que ver o cadáver de um ente, é ver um cadáver de um ente ainda com vida, na mais profunda agonia física. Ninguém merece!Jamais esquecerei aquele olhar esbugalhado fitando-me e expressando uma enorme dor e confusão. Aquele olhar que tantas vezes pela vida fora me fitou. Jamais esquecerei aquele colo que tantas vezes me embalou em criança, aquela boca por onde foram proferidas tantas histórias, da qual já nem sai um pequeno sussuro, tal é a falência do corpo. 
A vida humana é realmente muito frágil. Raramente me arrelio, faço os possíveis por me divertir dentro da minha vidinha rotineira sem grandes sobressaltos. Sou quase doutorada, e não passo de uma dona-de-casa. Não tenho aspirações profissionais. Vivo com pouco dinheiro e sem grandes luxos. Mas nada disso me importa. Não sinto falta de realização pessoal. Só o faria se não tivesse noção de quão efémera é a existência.
Aos meus anjos-da-guarda, aqueles que olham por mim no Céu, só lhes peço saúde para continuar a criar o meu Filho, assistir à minha Família e que sempre me auxiliem a fazer face às pequenas partidas que podem estar guardadas para mim neste campo de batalha que é a vida de uma pessoa. 
Porque a morte acaba sempre por nos levar, que o faça com meiguice e rapidez...

sábado, 10 de junho de 2017

A minha paixão pelos gatos






Quem bem me conhece, não desconhece em mim uma paixão acérrima que nutro por estes felinos de palmo e meio. A vida poderia ser vivida sem eles, mas tudo em mim me diz que não seria a mesma coisa. Quis o fortúnio que eu viesse parar a uma quinta na serra, mas o infortúnio obrigou-me a entregar à guarda da minha querida Mãe, três meninas pretas lindas, mas que sem esta abdicação, morreriam ao mais leve ataque de cães pastores. Assim aqui me vi sem uma amiga de quatro patas e garras afiadas. 
Embora de vida preenchida, continuava a sentir aquele vazio de quem muito se dedicou ao cuidado de felinos domésticos, de quem muitos gatos resgatou da rua e de corpo e alma se entregou a encontrar donos responsáveis e a tantos outros trabalhos se dedicou em prol do amor a este animal.
Isto é mais do que um amor a estas criaturas que a natureza dotou de uma beleza ímpar. Não sei dizer ao certo o que me agarra emocionalmente aos gatos. Sou gatófila, consigo passar horas esquecidas a observar os movimentos lânguidos e eficazes deste felino. Numa época da vida em que me encontrei muito lá no fundo, em que estive internada e quase deixei de saber viver, eles, ou neste caso, elas, as gatas da casa, ajudaram-me a reaprender a viver. Sem a sua presença constante na minha cama onde jazi convalescente durante tantos meses, sei ao certo que não me teria reerguido tão depressa.
O ronronar da minha Mistóflas funciona como um daqueles antidepressivos de que tanto necessito para a estabilização da minha mente. Nada tem o preço da companhia da minha menina. Só eu sei a tranquilidade que ela me transmite quando, noite após noite, se aninha aos meus pés para me acompanhar nas viagens nocturnas ao Morfeu.
No dia em que me casei, tinha oito gatos em casa, sendo quatro resgatados da rua, com o objectivo de arranjar donos. Quis o destino que eles invadissem as fotos de um dos dias mais inesquecíveis da minha vida! Como não poderia deixar de ser, esta fotos ficou para a posteridade da minha história, porque.... poder podia, mas não seria a mesma coisa! Obrigada, Amados gatos!