domingo, 26 de fevereiro de 2017

Renascer de novo


Após mais um mês de ausência, eis-me de novo renascida e refeita de mais uma complicada crise que me deitou por terra, mas quiçá me tenha deixado mais forte. A muito custo se retomam atividades deixadas pelo caminho, rotinas abandonadas ao sabor das dores corporais que não são raras quando as crises me assolam, e todos os outros afazeres quotidianos retomam o seu sentido. Só a muito custo as madrugadas fora da cama voltam a ser uma realidade. O que é mais difícil para mim é, indubitavelmente, retirar-me da cama com a antecedência necessária para desempenhar toda uma série de atividades a que costumo gostar de me entregar logo ao raiar do dia. Mas sei que com o tempo e com a recuperação, essa vontade e força invadir-me-á e em breve estarei a dar os meus cem por cento.
Renascer da vida cinzenta em que mergulhei por tanto tempo não é tarefa que se avizinhe fácil. Bem pelo contrário, só a muito custo o ânimo se instala e a vida torna a fazer sentido. A uma velocidade, tudo menos sónica, as minhas capacidades se vão reinstalando, permitindo-me raciocinar com clareza, pensar, agir e interagir socialmente. Sair deste casulo onde, por tanto tempo, me encontrei comigo mesma, é custoso e difícil de gerir.  
Não se pense, porém, que tudo é mau. As chapadas constantes que a vida me prega permitem-me olhar com um brilho diferente nos olhos de cada vez que o mundo se apresenta colorido para mim. Depois dos dias invernosos, penso que todos nós acolhemos de bom grado as primaveras esverdeantes e cheias de vida. Assim eu olho para o mundo como uma cíclica primavera que se apresenta diante dos meus olhos de cada vez que consigo sair desta lama invernosa e sombria em que constantemente mergulho.
O mundo assume contornos maravilhosos quando se sai das trevas. A apatia completa de que me liberto dá lugar ao prazer de ouvir o chilrear dos pássaros e do vento a bater nas oliveiras. Um sorriso que me é presenteado tem sabor a mel, tem a profundidade do amor que sinto pela vida, pela simpatia do mundo, pela beleza das coisas e pelo prazer que tudo me dá. Sair de um momento sombrio é, sem dúvida, uma libertação da alma. Viver a vida com saúde mental é uma bênção a que estamos pouco habituados a agradecer. Quando a nossa mente vagueia por vitalidade e energia mental o mundo assume outros contornos.
Quando estou saudável, amo intensamente a vida, sugo-lhe cada segundo e transpiro felicidade por todos os meus poros. Estou em paz com a vida. E, por mais paradoxo que possa parecer, por cada queda que dou, o reerguer vem com redobrada força e amor à vida. Não escondendo, porém a exaustão que a fraca saúde me provoca, pouca ou nenhuma recordação me esforço por ter dela quando a saúde me bafeja...