domingo, 16 de setembro de 2018

A Minha Rentrée II



Estamos em plena véspera de mais um ano letivo. Setembro, desde que me lembro de mim, tem tanto ou mais significado do que Janeiro. Ao longo de toda a vida, quase tudo se (re)iniciou em Setembro. Fui aluna ou professora (ou ambos) e, como mãe em "regime exclusivo", esta altura do ano continua a ter um sabor especial. Como pessoa feliz, realizada e otimista por natureza, que sou, os recomeços traçam-me sempre novas metas. Há sempre novos desafios impostos pelas circunstâncias, e os passados recentes ensinam-nos sempre muitas coisas.
O ano anterior ficou, sem dúvida, marcado por uma das mais arriscadas manobras físicas a que já fui sujeita. Não foi de ânimo leve que fechei os olhos por seis horas enquanto se escarafunchava na minha espinalmedula, se retorciam vértebras e se instalavam próteses. O frenesim de gente amada à minha volta, que constantemente me apoiou, junto de mim ou à distância, fez-me sentir feliz dentro da minha fragilidade e desânimo face às dores.
O meu "mais-que-tudo" ficou a cuidar do nosso Filho e, há distância de mais de 200km, ficou a aguentar o barco da ansiedade que se sente nestas circunstâncias. A minha Mãe permaneceu sempre junto de mim no internamento hospitalar. Sofreu com a angústia da espera de quem já tinha sentido a dor de perder um Filho.
A chegada a casa foi triunfante. Olhar para os olhos de felicidade dos meus Amores, espelhando o alívio de quem já tinha superado mais esta etapa. Custou-me a falta das correrias costumeiras direitas aos meus braços do M., depois de horas de escola ou de outra ausência qualquer. Como menino dócil e respeitador dos sentimentos dos outros, num ápice compreendeu as minhas limitações físicas. Com o desenvolver, embora lento, da minha desenvoltura física, foi-se tornando um ajudante de peso, chegando-me uma coisa aqui e apanhando outra ali. 
De resto, todo o meu núcleo foi um poderoso apoio, num ano muito problemático. Na verdade, posso mesmo dizer que foi o facto de estar rodeada de pessoas de muito valor, integridade e inteligência que me fez crescer, aprender mais e certificar-me de que a "estrada" por onde decidi seguir pela vida, é a da virtude, do bem e a da honestidade.
Amanhã, pela manhã, largarei o meu Filho na carrinha da escola em direção ao primeiro dia do seu 2.º ano de escolaridade. Há um ano letivo pela frente que se deseja melhor do que o anterior. Todos crescemos um pouco com o trágico episódio de bullyng perpetrado ao meu Filho. Desde idas ao SU, choradeira, apatia, aneurese e pesadelos noturnos, o meu Menino, de apenas seis anos, foi sujeito a duras provações. Não se quedando por aqui, o assédio físico e psíquico de todo o tipo de funcionários da escola, enraivecidos por terem sido chamados à razão pela sua vergonhosa negligência, também se fez sentir.
Esta história triste hiperbolizou-se porque se passou numa terra que, apesar de não ser uma aldeia, a mentalidade é altamente tacanha e aldeã, à laia de Salem. Como Mãe, não pude deixar que o M. continuasse a ser um "saco de porrada", à mercê de meninos perturbados que espraiavam as suas raivas pessoais num menino frágil e dotado de muita assertividade.
A verdade é que só tomei conhecimento de toda esta violência quando, depois da escola, tive de ir direta para as Urgências Hospitalares. Nunca me disseram nada. Indecente! Informar para quê? Permito-me pensar que nunca me disseram nada para eu não "atrapalhar" os hábitos instalados. 
Não fica por aqui, a história elevou-se a contornos macabros. Face à inoperância da escola, tive de resolver o problema por mim. Claro que, no entretanto, o M. continuava a ser a chacota dos agressores, valeu-lhe mais uma urgência hospitalare e muitas marcas no corpo (pescoço, ombros, orelha...). Estranhamente e com muita estupefação da minha parte, os paizinhos viraram-se todos contra mim. Pessoalmente, considero esta atitude muito descabida. Pese embora esta gentinha goste muito de se imiscuir na vida uns dos outros, eu sou de outra estirpe. Não tenho de justificar as minhas ações ao popularucho que, hoje, depois de tudo, genuinamente desprezo e com  razão. 
Um pedido desesperado à Inspeção do Ministério da Educação e Ciência despoletou diligências que, segundo palavras do Inspetor, me vieram dar toda a razão. Ainda assim, as gentes do burgo continuavam muito revoltadas. Certo dia, fui a uma reunião da Associação de Pais(Associação esta, que também dava azo a outra postagem), o que lá vi e vivi, só filmado. Muitos pais clamavam por provas, explicações, muita berraria dirigida a mim entre muitas outras coisas que nem vale a pena descrever, dada a sua baixeza. 
Fomos também a uma reunião com o diretor, convocada por pais enraivecidos contra nós. Estavam revoltados porque havia um funcionário a vigiar o M., e outro para os restantes 150 alunos. ???Afirmou-se entre linhas, que jamais teriam descanso se o nosso Filho continuasse a frequentar a escola. Entre tantas outras barbaridades. A piada mor foi o facto de o pedido para a reunião ter sido assinado por cerca de 16 pais, e apenas compareceram nove. Vá-se lá saber...
É óbvio que tudo isto é muito descabido e irregular. Não existiu qualquer sentimento de empatia pelo facto de uma criança de seis anos estar a ser sistematicamente perseguida e agredida física e psiquicamente em espaço escolar. O que existiu realmente foi uma coletividade enraivecida por ter sido posta em causa, afinal de contas, quem veio agitar as águas nem é conterrânea, nem vai à missa ao domingo para socializar. Tenho muita dificuldade em compreender estes mecanismos mentais perversos que não olham a meios para atingir fins.
A agravar a situação do povo, a descoberta de que eu tinha uma doença, nas suas cabecinhas pequeninas, muito "perigosa", à boa maneira da mais rotunda ignorância, condenaram-me por esse crime. A citação diria: Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que dizem. Eu permito-me acrescentar: eles não sabem nem sonham do que estão a falar, pois não passam de uma corja de medíocres, ignorantes, incultos e preconceituosos.
Por coincidência, estou a ler O Livro Negro do Comunismo e nem se podem imaginar as semelhanças entre esta história e as purgas estalinistas. Esta gente está completamente apodrecida, os seus valores estão invertidos, embora eu duvide que os tenham.
Quanto à escola, são contas de outro rosário. Aprendi que quem está junto das crianças, nem sempre quer o melhor para elas. Aprendi que quando se tem quezílias com os pais, quem paga são as crianças. Elas acabam por ser meios para atingir fins. As declarações prestadas pela instituição por intermédio dos seus intervenientes, revestem-se de autênticas formas de esquivar-se o mais possível aos erros cometidos para salvar a reputação, evitar futuros problemas, para não referir as contas que prestam à consciência.
Porque de consciência falamos, não posso deixar de referir que, aquilo que me tranquiliza e me serena é o facto de saber que fiz o correto e salvei o meu Filho (os pais do agressor tiveram a ideia peregrina de o retirar da escola). Agi sempre dentro da legalidade e da racionalidade e, apesar de ser Bipolar, ultrapassei esta má fase sem adoecer, felizmente, apesar de tantos ataques cerrados, não caí numa depressão profunda. Muitas pessoas das minhas relações acompanharam atónitas, à distância esta história pesada. Lançaram raios e coriscos a pessoas tão más, que nem sequer tiveram o cuidado de reparar que, no meio, estava apenas um menino. Voltando à questão da consciência, continuo a reafirmar que me pautarei sempre pela dignidade que imprimo aos paços que dou. Foi assim que fui educada e a minha vasta instrução e cultura também não me permite ser de outra maneira. Volto a referir que o Senhor meu Pai incutiu em mim o mais digno dos valores: a integridade. Nas suas inúmeras condecorações militares como Oficial de Engenharia, estão mencionadas as estradas que rasgou nesta zona do País. Hoje, estou em crer que a esmagadora maioria destas gentes, que vergonhosamente pisa o seu contributo à Nação, não merece um grãozinho do seu alcatrão, pois jamais estará à altura de quem as projetou. Estão a vasta distância de quem me educou! E eu pedantemente digo e assumo-o, por estas terras, tenho as minhas duvidas que haja mais do que algumas pessoas que se me equiparem. E esta afirmação, assino-a e assumo-a. Há quem não saiba o que significar Assumir os Atos ou as Palavras!
Outro dos contornos foram as cartas anónimas. As pessoas podres e baixas escondem-se por de trás do anonimato quando sabem que estão a dizer coisas muito estúpidas. Não vejo outra explicação. Quando temos vergonha daquilo que dizemos, ou não dizemos, ou escrevemos uma carta anónima. Claro que a cobardia é a explicação mais óbvia. A verdade é que este modus operandi é digno de gente "que olha para o chão". O conteúdo das cartas consegue ser mais absurdo que o ato em si, mas pelo menos permitiu-me perceber a justificação do crime (cometido por mim, entenda-se) - nasci doente bipolar! Apesar dos Médicos Anónimos Populares me terem diagnosticado outras tantas coisas, mais um sem número de sintomas, não deixa de ser triste verificar o nível de ignorância das pessoas em relação a estas matérias. Serem uma grande cambada de ignorantes, não me surpreende, o que é grave é que transmitam estas ideias aos filhos, que serão os adultos preconceituosos do amanhã, perpetuando-se assim o ciclo do obscurantismo.
Também foi muito fácil perceber que um dos defensores anónimos do meu Filho (motivação altamente hipócrita, apenas um fim para atingir os meios) é membro do corpo docente da escola (que eu, por acaso, até sei quem é). Para além de ser uma missiva anónima, embora muito caridosa, que para mim pouco mais é do que lixo, faz diagnósticos no âmbito da pedopsquiatria. Não compreendo os motivos que levam as pessoas a proferir sentenças que não são do seu pelouro. Ora vejamos, das duas uma, ou este povo é pura e simplesmente um cérebro oco coletivo, ou em cada casa há um médico. Se assim for, digam, estou com uns problemas na tiróide, talvez haja um endocrinologista aqui na Ordem Municipal dos Médicos.
Para terminar e à laia de conclusão, o grande problema foi que a ignorância coletiva deu-me como "louca", seja lá o que isso for. Para ajudar à festa, nós somos uma família migrante e este povo de emigrantes do Interior do País, estranhamente, é muito xenófobo, só os emigrantes que passam cá o mês de Agosto é que são os "forasteiros benquistos". Ou seja, ter-se-á juntado o útil ao agradável e tentou-se que os invasores abandonassem a terra. Como se enganaram! Gosto de morar aqui por ser campo e estou-me nas tintas para a paisagem humana cá do sítio. Não resisto a acrescentar que, certo dia, uma mãezinha desatou aos berros para mim no meio da rua. Disse muitas coisas estranhas, falou em maluca e manicómio. Como tenho classe e sou educada, obviamente não proferi uma palavra. No entanto, pergunto: quem está perturbada? Apesar de ter sido acusada de andar a chamar nomes às pessoas (numa carta assinada por um anónimo), de tarde à porta da escola, naturalmente que nunca o faria. A minha educação não o permite. Ironicamente, o acusador anónimo esqueceu-se que eu estive entrevada desde Março a meados de Junho devido a uma profunda neurocirurgia à coluna. Lá diz o velho dito: mais depressa se apanha um mentiroso...

Quanto à CPCJ local, se eu contasse o que sei... Fico-me por sugerir a leitura da legislação acerca da forma como os seus membro são escolhidos. E já agora, se tiverem paciência, investiguem documentação sobre os regentes escolares, entre 1935 e 1940, depois... comparem informações e retirem as vossas conclusões!

E assim termina mais este episódio da vida da minha família, recheado de ataques pessoais, preconceito, muita vigarice e que, lamentavelmente, apesar de todas os nossos esforços em ajudar o M. e canaliza-lo para todo o tipo de acompanhamento, a verdade é que se tornou um joguete nas mãos da ralé, para nos atingir.
Cada uma das personagem externas à família, saberão ao certo quais as suas motivações e as razões dos seus ódios de estimação. Fiquem-se com eles!

Quanto a mim, a Rentrée já está preparada. A normalidade reinstalou-se, as rotinas de trabalho retomam-se e a coluna, desta vez sim, melhora a olhos vistos. Esta semana retomo a Natação e dentro de uma semana partilharei a organização caseira, pois tenho muitas novidades!

Um excelente Ano Letivo 2018/2019! Esperando que cada qual se meta nas suas vidas.

NOTA: Esta história aplica-se apenas aos supostos envolvidos na narrativa, no entanto ressalva-se que pode ser ficcionada. 

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