domingo, 14 de fevereiro de 2016

Mãe, estudante e pau para toda a obra...

Imagem retirada da internet
 
Como todas nós, mães, sabemos, a maternidade não é tarefa fácil!! Embora a minha procissão esteja no adro, já consigo ter um vislumbre daquilo que me espera. Como diz a minha Mãe, profissão de mãe não tem reforma!! Mas o que me ocorre de momento, é dissertar sobre como se pode levar uma vida sem emprego, cuidando de uma criança pequena, duma casa, de um doutoramento, de uma horta e de tantas outras coisas triviais. Emprego, não o tenho. Rendimentos, tão pouco, mas canseiras e trabalhos tenho aos molhos!!
Tento começar os meus dias cedo, embora a minha fraca saúde nem sempre o permita. Sou daquelas que acredita que de manhã é que se começa o dia! Toda a minha energia é sugada pelos dias que correm velozes e atarefados. Não sou dada ao ócio, nunca o fui! Enquanto estou acordada nunca paro. Não tenho serviço televisivo porque, nem o posso pagar, nem me interessa vegetar no sofá a olhar para a caixinha!
Como estava dizendo, ocupo-me de muitas tarefas, algumas rotineiras, outras nem tanto. Neste espaço, já tenho mencionado assuntos relacionados com a forma como organizo os meus dias, as minhas semanas, etc.
À primeira dir-me-ão que sou uma sortuda! Passo o dia em casa sem fazer nada, pensa muito boa gente. Não raras vezes sou confrontada com comentários absurdos - Está em casa?? Tem que arranjar coisas para se entreter! Eu diria que há alturas em que daria tudo para não me entreter com nada!!
Tal como as pessoas empregadas que têm filhos, começo os meus dias com algum stress para chegar a horas à escola! O resto do dia é encarado como um emprego muitíssimo trabalhoso, mas nem por isso monetariamente recompensado. Entre bibliotecas, panelas e afins vou repartindo o meu dia, não descurando as tarefas inerentes ao cuidado da minha pequena quinta.
Diária e rotineiramente tenho o pequenote em casa à mesma hora. A sua presença deixa-me menos margem para tratar das coisas de forma mais empenhada, pois ainda é muito pequeno e requer quatro olhos em cima. E creiam-me, estudar com uma criança de quatro anos ao lado não é para meninas!!
Voltando à velha história do feminismo, não advogo tal corrente na sua essência mais radical, mas não posso deixar de me manifestar contra uma certa forma de sobrecarrego de que, nós mulheres, somos vítimas. Tendo nós emprego ou não, os nossos maridos, um pouco por sequelas educacionais, um pouco por conveniência, uns mais, outros menos (salvaguardando-se as exceções),  tomam-nos, à boa maneira salazarista, como "rainhas do lar". Não falo condoída, pois o meu Pai, que hoje estaria na casa dos 70, sempre foi o responsável pelas refeições lá de casa. Quanto ao R., Trata-me do gaiato com mais destreza do que eu, até!
Já tenho pensado neste assunto frequentemente, com maiores ou menores certezas. Permito-me fazê-lo porque o meu doutoramento versa sobre estas questões. Acho muito sinceramente que, como referi, a maleita é educacional e interesseira. Se as nossas mães foram criadas sob o espetro do chefe de família, a forma como vieram a educar os seus filhos, mais não é do que o reflexo do seu próprio exemplo. Reafirmo que não me pronuncio como condoída. Sou neta e bisneta de mulheres divorciadas que sustentaram as suas famílias e criaram os seus filhos sozinhas. A minha Avó é filha de um republicano convicto que enviou a filha para se licenciar em Coimbra.
Parecendo desviar-me por completo do mote desta conversa, o que me ocorre dizer é que nós, mulheres, cada uma à sua maneira, somos um grande suporte deste mundo, das nossas famílias, da sociedade em geral, e não se atrevam a pensar que não nos cansamos. Não! Não somos máquinas! Mas, umas mais do que outras (mães, estudantes, mulheres de carreira, donas de casa, etc.) vamos sendo um pouco pau para toda a obra...
 
 



2 comentários:

  1. Antes demais obrigada pela tua visita ao meu blog (deixei lá a resposta ao teu comentário)! Assim que entrei aqui deparei-me logo com este texto, e que texto... Podia muito bem ter sido escrito por mim, mas acho que ainda assim foste "boazinha" nas palavras, eu nestas coisas torno-me um bocado agressiva nas palavras, ao pensar nas coisas a revolta vai ganhando terreno e acabo por transpor muito isso no que escrevo.
    Neste momento não tenho emprego, tive a oportunidade de "escolher" entre ir trabalhar ou correr atrás do meu sonho: fazer faculdade em psicologia. O único dinheiro próprio que vou tendo são os bolos (o famoso cake design) que vou fazendo, e não é grande coisa porque não sou careira nem quero enriquecer. Este último ano decidi fazer uma pausa na faculdade para poder ficar com o meu mais novo no primeiro ano de vida dele. E não é fácil, às vezes satura, mói, desgasta.
    E a sensação que tenho é que para os outros, aqueles que sabem que estou em casa, é sempre pouco, que devo ser a fada do lar, esfalfar-me a trabalhar como a isaura, a escrava, como se eu tivesse a responsabilidade de cuidar de um homem que é bem grandinho para que tome conta dele, um homem que não pari mas que uma outra mulher me delegou a responsabilidade (que eu não pedi) de a substituir. Acho que tive azar no que me saiu na rifa, mas pronto, continuando...
    Isto para dizer que a sociedade continua a estigmatizar as mulheres, continua a esperar que as mulheres desempenhem o papel que é esperado delas: cuidar dos filhos, abdicar da vida profissional porque sim, ficar de volta das panelas e esquecer de si própria. Senti isso na pele, até ao dia em que disse chega, e o "menino" grande ficou abalado e os pais chocados. Enfim, se quiser uma empregada que contrate uma ou então que meta a mãe a vir cá a casa limpa-la uma vez por semana (que era o que ela fazia quando ele vivia sozinho).
    É uma luta solitária, é revoltante não ter o reconhecimento de que faço muito, de que sou uma mulher muito para além do avental, da vassoura ou das fraldas sujas, acharem que faço pouco. Mas enquanto eu tiver força, enquanto eu achar e sentir que mereço melhor, nada nem ninguém me reduzirá a uma simples dona de casa.

    Fiquei fã do teu blog, voltarei sem dúvida!

    beijinho
    www.blogasbolinhasamarelas.blogspot.pt

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    1. Olá, obrigada por me visitares, por teres gostado e por teres manifestado a tua opinião neste espaço.
      Tens muita razão quando dizes que sou branda nas palavras. Há dias em que estou mais contida, mas também tenho aqueles dias em que tenho o coração ao pé da boa e a coisa fica mais agressiva! Compreendo-te quando falas do filho adotado. Não sou das mais azarentas, mas às vezes tb me sinto uma Isaurinha, passo-me da cabeça e durante umas semanitas a coisa fica mais equilibrada, o pior é que os "reizinhos" têm memória curta, e tão depressa se colocam na linha, como se esquecem muito rapidamente. Por outro lado a conversa do ah e tal não sei fazer isto e aquilo, etc. é-lhes muito útil. Nós tb não nascemos ensinadas! Eu costumo dizer que as mãezinhas educam os filhinhos para que as filhas de outras mulheres sejam suas criadas. Eu acho que além de preguiçosos são aproveitadores e egoístas. Aproveitadores porque lhes convém não se cansarem. Egoístas porque ao deixarem a sala desarrumada não pensam que a próxima pessoa a lá chegar tem o direito de ter tudo em ordem. E tantas coisas mais poderia dizer sobre isto (ando a fazer um doutoramento sobre estas questões). Concordo quando dizes que somos muito mais para além das vassouras. Somos mulheres de grande coragem, não nos deixamos abater e perseguimos os nossos sonhos, como vejo poucos homens a fazer...
      Tb sou mãe de um pequentote de 4 anos que já me ajuda a colocar na panela os legumes para a sopa, espreme os limões na máquina, faz-me pequenas tarefas que lhe vou pedindo, varre a cozinha, arruma os seus brinquedos, etc. Posso ter muitas incertezas em relação à maneira como estou a educar o meu Filho, mas uma coisa é certa, não vou fazer dele um perfeito pastelão oportunista e egoísta como os homens da nossa geração!! Um grande beijinho e volta sempre que quiseres.

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