domingo, 17 de junho de 2018

Comprazendo-me com a Loucura!

 

Adoro o mês de Junho! Ao longo de toda a minha vida, este mês, felizmente, tem sido de uma enorme alegria. Não só por ser o mês do meu aniversário, do aniversário do meu casamento e das festas da minha Lisboa. Nativa de Junho, gemeniana pura, com a maioria das casas em Gémeos, segundo uma amiga que percebe do assunto, seja lá o que isso for, assim sou eu. 
Este mês anuncia a vinda do verão, a minha estação do ano preferida. Verão é divertimento, praia, folia e lazer. Embora para trás tenham ficado os verões entre amigos, divididos em sardinhadas junto ao mar e caracoladas nas esplanadas da praia, hoje o verão tem outro sabor. Embora a morar no interior, verão ainda sabe a praia sempre que quero, ou a saudade da envolvência das origens impera.
Hoje em dia, o verão é sentido como uma bela oportunidade de usufruir da família. Apesar de passarmos sempre uns tempos na Caparica e Lisboa, a maior parte da estação é passada em nossa casa. Passeios por aldeias remotas, rios, piscinas e picnics, preenchem os nossos dias.
Este ano as férias trazem consigo um novo desafio, pois decidimos ficar com o M. em casa, ao invés de o "descartarmos" num ATL. Para além de uns dias de atividades camarárias na piscina municipal, ele vai ficar connosco. Quando ele entrou para o 1.º ano, em Setembro, eu e o R., assim decidimos.
Quanto a mim, confesso que estou muito entusiasmada com a ideia, mas igualmente um tanto receosa. Quem por aqui me segue, sabe que sou uma pessoa muito metódica e organizada. Há semanas que não para de pensar num plano para nos manter ocupados durantes estes meses. O entusiasmo que sinto, advém essencialmente de estar a sentir muita necessidade de recuperar o tempo perdido destes dois últimos meses. A neurocirurgia à coluna deixou-me muito debilitada, pelo que o contacto sofreu as suas limitações. As célebres correrias para os abraços ao chegar a casa, da escola, com o Pai, tiveram de acabar, por exemplo. Tal como o costumeiro beijinho de boa-noite, pois não é possível dobrar-me para o aconchegar nos lençóis. Já para não falar na usual história para relaxar antes de ir dormir. Só há umas três semanas é que tenho conseguido deitar-me junto a ale para, os dois, a meias, lermos o enredo. Já lê comigo. Como cresceu!
Nem tudo são rosas, há muitos espinhos pelo caminho. Mas eu digo, entre a rosa e o espinho, vive o belo aroma que esta flor liberta. A vida é, para todos nós, polvilhada de desaires e amarguras. É verdade que uns são mais bafejados pela sorte do que outros. Mas é verdade também, que a sorte e o azar, como todos os conceitos, dependem da nossa apreensão. Ou seja, se nos acharmos muito azarados, sentimo-nos muito infelizes. Por seu lado, podemos achar que temos muito azar na vida e ter de lutar um pouco mais, considerando isso uma enorme sorte. E um sem número mais de perspetivas. Nesta última que enumerei eu, nesta fase da vida, incluo-me.
Não posso deixar de considerar que, ter perdido o meu Irmão em idade tão precoce, e o meu Pai aos 27 anos, que por 7 dias não teve a felicidade de me ver Mestre, foi um infortúnio. Causou-me um sofrimento atroz e obrigou-me a vivenciar experiências pelas quais ninguém devia passar. Fui caindo aqui e ali pelo caminho da vida.
À parte tudo isto e voltando ao Mês de Junho, hoje, no dia em que festejo as minha 41 primaveras, sinto um grande sabor a felicidade e libertação. Estou leve, alegre e confiante no presente e no que há de vir. Desde há alguns meses que enfrento alguns problemas pessoais, dos quais posso finalmente respirar de alívio. Mais do que qualquer outro ano, anseio veementemente a vida das férias do verão. Só penso em meter mãos à obra, fazer um levantamento de atividades possíveis, fazer planos de estudo e horários para dar aulas em casa e quantas mais ideias tiver.
Sou daquelas que acha que um problema traz mil aprendizagens. De entre as muitas coisas que aprendi nos últimos meses, umas foram mais positivas do que as outras. Fiquei a conhecer aspetos da natureza humana com os quais nunca me tinha deparado. Pior do que tudo, foi ver o menosprezo que muitos adultos nutrem pelas crianças. Por vezes verifiquei isso em adultos com responsabilidades acrescidas nessa matéria. Em termos humanos e humanitários, foi o que mais me impressionou, confesso. Para mim, uma criança só sobrevive com a proteção do adulto. É assim desde tempos imemoriais, desde que vivemos em cavernas.
Aprendi outras coisas curiosos, até caricatas, se não cómicas. A determinada altura do campeonato, devido à forma que escolhi para enfrentar o problema, aleado ao facto de se saber publicamente que sofro de perturbação bipolar (fui à TV falar sobre uma vertente do assunto), istlou-se uma espécie de histeria coletiva. A população do sítio, ao que parece, estava com muito medo de mim. Nas suas cabeças eu seria bastante perigosa. Inclusivamente, tive conhecimento, por interposta pessoa, do envio de uma enormidade de missivas dirigidas às mais diversas entidades, referindo a minha doença. Penso tratarem-se de uma espécie de denúncia por crime de doença bipolar. Como se isto não fosse cómico o bastante, as cartas eram anónimas. No fundo até percebo que os autores deste tipo de baboseiras não queiram assumir a autoria da sua própria ignorância.
Pela vida fora, aprendi a viver com a doença bipolar. Não gosto de ter esta doença, tal como não gosto de ter os outros problemas de saúde que tenho. Ninguém gosta. Reconheço que as doenças psiquiatras têm uma especificidade singular. Quer do ponto de vista do paciente, quer da sociedade. A ciência é simples: Perceber a doença, encará-la de frente, assumi-la, e tentar não permitir que a ignorância social nos derrube. Se partiu um braço é coitado, se é bipolar é louco. Felizmente, por força de caráter ou lá o que for, o que pensam ou dizem é para deitar no lixo. Não é sequer admissível culpabilizar quem quer que seja por ter nascido desta ou daquela maneira.
Abracei a docência pelo gosto de ensinar, pelo amor ao conhecimento. Se na maioria das vezes a ignorância me entristece, neste caso, não posso deixar de comprazer-me com loucura...