sexta-feira, 31 de março de 2017

DIY na minha cozinha


Hoje, dedico este post a uma das coisas que mais me apraz fazer - gerir a alimentação da família. Este gosto herdei do meu saudoso Pai, que muito me ensinou sobre estas mágicas. Passei horas da minha vida a observá-lo a tratar da carne para congelar, a passar-lhe os ingredientes para a confecção das receitas da sua Bíblia - O Pantagruel, a provar animadamente as iguarias, em tardes cúmplices onde se trocavam confidências, se ouviam conselhos paternos, se contavam anedotas e se discutiam temas dos mais diversos. Com ele aprendi a fazer as minhas compras de supermercado, a gerir o orçamento, a prospectar preços e a escolher os locais ideias onde comprar o quê. Porque a tudo o que aprendemos acrescentamos sempre algo de nosso, orgulho-me de transportar comigo a sua herança nas lides da gestão alimentar, mas também elaborei outras estratégias, umas com base exclusiva nos seus ensinamentos, outras vou aprendendo por aí, e ainda outras advém das minhas necessidades. 
Desde que me mudei para a quinta e que tive de lidar com fartura de certos bens alimentares em determinadas alturas do ano, tive de aprender a trabalhar depressa para conservar abóbora, tomate, pimentos, etc.. Foi assim que me comecei a aventurar na elaboração de compotas, marmelada e geleias. Comecei também a utilizar cada vez menos o tomate de lata, sendo que durante seis meses do ano, praticamente não o utilizo. Desta forma dispenso produtos processados, carregados de conservantes e açúcares desnecessários à nossa alimentação. 
Hoje, como foi dia de fazer compras de carne e peixe para o mês, vou aqui falar da forma como organizo as coisas cá por casa de modo a facilitar o dia-a-dia da minha cozinha:

- No último dia do mês, trato de comprar carne e peixe, quase exclusivamente. Para esta ida ao supermercado, trato de prospectar os folhetos para saber onde e o que está em promoção. Este mês tive sorte porque a carne estava toda em promoção num dos supermercados. Como estamos numa 6.ª feira, aproveitei para comprar os perecíveis e outros produtos de consumo semanal para a próxima semana (o que normalmente só faço à 2.ª feira), mas aproveitei a ida à cidade por ter maior variedade de preços e de géneros. Como o congelador já estava praticamente vazio, devido ao pouco que sobrou do mês que findou, foi fácil acomodar os "novos inquilinos".

- Como, apenas as compras mensais são realizadas na cidade, aproveitei a visita para comprar alguns produtos que nos supermercados da vila não se encontram. Tal foi o caso dos amendoins crus para fazer a manteiga de amendoim, como se vê na primeira imagem. 

- O tomate mais antigo, que deu lugar ao novo no frigorífico, juntamente com um resto de alho-francês, virou molho para pastas diversas, almôndegas em tomate, ou outro prato qualquer. O molho foi congelado em bolsinhas herméticas prontas a usar, quando a ementa semanal assim o exigir.




- Chegada a altura de amanhar a carne para congelar devidamente, havia que dar destino mais concreto à carne picada que é, para nós, uma maneira mais económica e acessível de comer carnes vermelhas, que tão imprescindíveis são para a saúde das nossas células cerebrais. Sei sempre onde há carne para cozer em promoção, escolho nacos bons e mando picar. Nunca compro carne previamente picada. Em casa separo a carne em sacos, consoante o destino que lhes quero dar (ex.: rolo de carne, bolonhesa, etc.). Com uma parcela da carne faço as almôndegas que congelo de um dia para o outro e guardo posteriormente num saco hermético, que vou usando. 
 


- A restante carne foi devidamente acomodada e congelada numa gaveta exclusiva para carne. Não tenho as coisas misturadas no meu congelador. Sou muito esquisita com a separação dos alimentos. O peixe, a carne, o pão, os molhos e os vegetais, têm acomodações próprias para que os cheiros não se misturem. Ensaco tudo muito bem, domino por completo o conteúdo de cada gaveta e tenho tudo devidamente acomodado. Quanto às coisas mais antigas (que por sinal, pouco sobra duns meses para os outros), substituo os sacos para me livrar do gelo que se acumula no seu interior e dar um ar mais limpo e fresco aos alimentos que estão lá há mais tempo. Naturalmente que estes são alvos a abater nas mais próximas refeições. 

- Quanto ao peixe, o tratamento foi igual ao da carne - separar, ensacar e acomodar na devida gaveta.

- À medida que fui fazendo tudo isto, como não poderia deixar de ser, fui fazendo a lista de tudo o que tinha no congelador, com a indicação das coisas mais antigas (para lhes dar uso mais rapidamente).  

- Como a nova semana está à porta, ainda deu tempo de preparar a granola para a semana que vem.

- Com os frescos comprados, foi altura de limpar o frigorífico para acomodar os legumes e fazer a lista de tudo o que jaz lá dentro.

Apesar do dia ter sido bastante atarefado muito ficou ainda por fazer:
* A ementa da próxima semana com base nas listas de existências que elaborei;
* O planeamento das sopas que vou fazer;
* A organização e preparação dos alimentos para a confecção das refeições com base na ementa.

Hoje, para além de tudo isto, consegui preparar o peru assado de amanhã e o polvo à lagareiro de Domingo.

E cá para nós que ninguém nos ouve, fui ao Hospital de manhã fazer análises, fui à Biblioteca requisitar um livro e filmes para o fim-de-semana, tratei da roupa, da casa, do miúdo, trabalhei no computador.... e ainda dizem que me devo entediar muito por estar em casa sem fazer nada!  

sexta-feira, 24 de março de 2017

Sabores do Mundo


Há alguns anos que não faço viagens, há mais ainda que não passo de Espanha. Na verdade, quando descobri este país, deixei de viajar de avião. Fiz algumas incursões ao País vizinho que, confesso que havia jazido no meu rol de países secundários. Como me enganei! Quando descobri o que havia aqui tão perto de nós, comecei a fazer um turismo aventureiro, de carro e com destino semi-incerto.
Ao todo visitei vinte e dois países. Viajar era algo muito importante para mim. Mal terminava uma viagem, começava logo a pensar na próxima. Houve países que me encantaram de tal sorte, que optei por tornar a visitá-los. Fiz muitos tipos de turismo, desde o mais aventureiro do género mochila às costas até ao mais luxuoso em paquetes com ginásio e discoteca. Mas enfim, como eu costumo dizer, isso foi no tempo das vacas gordas.
O fascínio que nutro por outras culturas terá estado, por certo, na base das minhas escolhas académicas. Não sei se ter vivido na Guiné Bissau e na Líbia terá incutido em mim um certo espírito de cidadã do mundo. A verdade é que passei a infância em viagens de avião para cá e para lá. Se em terras muçulmanas vivi sempre escoltada na mais recatada segurança devido aos perigos a que os ocidentais estavam expostos, já por terras da África Negra subi palmeiras, apanhei ananases, comi ostras do alguidar e era das poucas meninas brancas na escola!
Tenho muito viva a lembrança de estar constantemente a pedinchar comida do prato do Zé Preto (nome que carinhosamente dávamos ao rapaz que trabalhava lá em casa, que nas horas vagas era o nosso melhor amigo de brincadeiras). Apesar de ter o meu almoço, o dele parecia-me sempre muito mais apetitoso. Ainda hoje tenho o sabor daquelas iguarias guineenses na boca e a recordação daqueles cheiros no olfacto!
Já adulta, aquando das minhas viagens e a despeito dos meus escassos 50 kgs, sempre fui muito lambona (como o meu saudoso Pai me dizia). Viajar sem experienciar a gastronomia local não era uma possibilidade. Aliás, seria absurdo não o fazer. Não me lembro de, nem me ter recusado experiência alguma ou nem de me ter arrependido de nenhuma! A verdade é que sou muito aventureira, se a carne de cobra é que era boa, então embora lá, e cobra estufada para cima!
Frequentei alguns cursos de línguas no estrangeiro, pois essa era uma forma relativamente económica de viajar. Normalmente nesses programas as aulas ocupam as manhãs e a maioria das tardes e fins-de-semana estavam por minha conta. Foi neste contexto que, munida de mapas, calcorreei muitas cidades, vi muitos museus, petisquei em trattorias e bebi chocolates quentes em climas frios.
Também regressei a Portugal no dia da Consoada para poder conhecer feiras de Natal por essa Europa fora. Houve cidades a que regressei mais do que uma vez, tal foi a marca que elas deixaram em mim. Por vezes o retorno revelou-se maravilhoso, por vezes acabou na certeza de que dizia um último adeus àquele lugar...
Também me aventurei a tal ponto que o meu Pai desesperou em terras lusas o tempo todo, jurando que se meteria num avião para me ir buscar a lugares menos amistosos. Houve também um lugar que me marcou indelevelmente. Um lugar no outro lado do mundo em todos os sentidos, mas que não sei por que mágicas, me pareceu o lugar onde devia ter nascido e de onde nunca devia ter saído. Foi talvez a mais mágica viagem da minha vida. Em terras tailandesas, senti-me nativa. Cirandei sozinha em plena luz da lua, em ruas movimentadas de uma língua estranha, onde regateei preços e desbaratei sorrisos porque me sentia, simplesmente feliz!
Também recordo com intensidade as tardes tórridas passadas em Volubilis, antiga cidade romana, onde pernoitei por quinze dias na companhia de uma grande amiga. Viagem recheada de aventuras que quase levaram o meu Pai a meter-se no avião para nos resgatar.

Umas foram andanças solitárias, outras nem tanto, mas foram todas viagens prazerosas que deixaram marcas profundas na minha maneira de estar no mundo e de senti-lo. Hoje, debatendo-me diariamente com dificuldades económicas, as viagens não estão na mira de um longo prazo, sequer. Por ora, contento-me, nas idas a Lisboa, com uma passagem no Martim Moniz pelos bazares estrangeiros, onde adquiro produtos alimentares que me permitem viajar kilómetros e percorrer culturas, sem sair das paredes da minha cozinha... 

domingo, 19 de março de 2017

Os Pais da Minha Vida






Não é segredo para ninguém - tive um Pai fora de série. Se fosse vivo estaria na casa dos 70, mas nunca teve pejo de nos mudar fraldas, acordar a meio da noite para nos embalar, ou mesmo para nos levar o almoço à cama quando estávamos doentes. Teve o infortúnio de ver um filho partir à sua frente e eu tive a infelicidade de o ver definhar com o desgosto. Tenho muita pena que não me tivesse levado ao "altar" e que não visse o neto nascer. Lamento profundamente não o ter por perto quando a doença aperta e eu me sinto mais fragilizada. Ele, como ninguém, tinha o condão de me acalentar a alma dorida. Amei-o e amo-o até à exaustão. Foi de facto uma tragédia tê-lo visto partir tão precocemente. 
Mas não venho falar exclusivamente do meu saudoso Pai, quero hoje, neste dia tão especial - Dia do Pai - falar dos Pais da minha Vida. O R. é sem dúvida o outro Pai, o Pai do meu menino de oiro. Falar do R. como Pai é falar de um homem cheio de amor e ternura, é falar de um homem que ama incondicionalmente o seu Filho, o nosso Martim. É falar de um homem que, muitas vezes se vê a braços com a Mulher doente, de cama, com a responsabilidade de cuidar do miúdo e aguentar o barco. É uma Pai que sabe sê-lo, que merece o nome e que sabe amar o Filho como ninguém. 
A nossa vida familiar é muito boa também graças ao equilíbrio que estabelecemos entre nós. Como não temos família por perto, nunca nos pudemos dar ao luxo de deixar o miúdo com os avós para uma saída a dois. Estamos habituados a fazer tudo a três. Como eu costumo dizer: para onde um vai, os outros vão! Nesta casa vivemos numa autêntica "economia comunitária". Contamos essencialmente uns com os outros e ter o R. do meu lado, é muito bom.
E porque estou muito feliz com o Pai da nossa pequena família, e porque fui muito feliz ao lado do meu próprio Pai, sou uma sortuda e estes são os dois Pais da minha vida!!!

quarta-feira, 8 de março de 2017

Dizem que é o nosso dia...



Hoje, celebra-se mais um Dia Internacional da Mulher! Pois para mim esta celebração até faz sentido, mas está a ficar um pouco carnavalesca, não?
Como sempre, acordei de madrugada, tratei da horta, do miúdo, cozinhei, limpei, arrumei, lavei, trabalhei, resolvi assuntos da família, fiz o meu papel de encarregada de educação, de educadora do meu Filho, preparei tudo para quando o meu Marido chegar à noitinha depois do trabalho tenha a comida já preparada, etc., e ainda me dizem que hoje é o dia da Mulher?
Tenho ouvido notícias de rádio e hoje, não se fala de outra coisa, senão em desigualdade, discriminação, violência, etc.. Também se ouvem notícias dispersas, pouco profundas acerca das origens desta celebração. Até ouvi, imagine-se a semi-história da primeira mulher portuguesa a votar. Digo semi, porque nas notícias, esqueceram-se de mencionar que logo a seguir ao seu exercício de voto, os republicanos alteraram de imediato a lei eleitoral para, de futuro, impedirem mais mulheres de votar. Infelizmente vivemos numa sociedade de desinformação, onde a notícia pela rama impera!
Durante quase uma década dediquei-me ao estudo da Mulher em Portugal nos anos 30. Acho que se evoluiu bastante, mas também acho que poderíamos ter evoluído mais. Todas as mulheres da minha geração são de uma geração muito ingrata. Fomos criadas pelas mulheres de ontem, cujos papéis domésticos estavam muito acentuados. As nossas mães, criaram os filhos à imagem dos seus valores, o que fez com que as mães dos rapazes tivessem criado os seus filhos para que as filhas das outras mulheres servissem de suas criadas. Sim! Muitas vezes infelizmente é como eu me sinto na minha própria casa! Não é pelo simples facto de não trabalhar fora de casa que assim me sinto, pois quando era docente era exactamente a mesma coisa. A verdade é que os nossos companheiros podem até não fazer por mal, mas que lhes dá um grande jeito, lá isso, dá!  
Mas para além das sobrecargas domésticas que temos nos nossos ombros, somos vítimas de outras pressões sociais, que tão bem conhecemos, como o desrespeito no trabalho, a desprotecção na gravidez e na maternidade, a violência doméstica, a desigualdade no tratamento, o assédio público, a pressão estética, etc.. 
Dizem que somos o sexo fraco. É verdade que não pego tão bem na enxada como o meu companheiro musculoso de 1.85 mt de altura, mas pego. É verdade que não trago dois toros de lenha para a lareira nas duas mãos, mas trago um. Mas também é verdade que quando estou cheia de febre, com gripe ou afins a vida continua. Por muito que me faltem as forças tenho um Filho para alimentar, uma casa para governar, etc.. Não posso parar, posso reduzir as rotações ao mínimo, mas sou muito necessária na engrenagem do meu pequeno núcleo social. 
Dizem que é o nosso dia, pois para mim, se me querem dar uma bela prenda por este dia, tratem de tudo por mim, pelo menos durante 24 horas!