sexta-feira, 24 de março de 2017

Sabores do Mundo


Há alguns anos que não faço viagens, há mais ainda que não passo de Espanha. Na verdade, quando descobri este país, deixei de viajar de avião. Fiz algumas incursões ao País vizinho que, confesso que havia jazido no meu rol de países secundários. Como me enganei! Quando descobri o que havia aqui tão perto de nós, comecei a fazer um turismo aventureiro, de carro e com destino semi-incerto.
Ao todo visitei vinte e dois países. Viajar era algo muito importante para mim. Mal terminava uma viagem, começava logo a pensar na próxima. Houve países que me encantaram de tal sorte, que optei por tornar a visitá-los. Fiz muitos tipos de turismo, desde o mais aventureiro do género mochila às costas até ao mais luxuoso em paquetes com ginásio e discoteca. Mas enfim, como eu costumo dizer, isso foi no tempo das vacas gordas.
O fascínio que nutro por outras culturas terá estado, por certo, na base das minhas escolhas académicas. Não sei se ter vivido na Guiné Bissau e na Líbia terá incutido em mim um certo espírito de cidadã do mundo. A verdade é que passei a infância em viagens de avião para cá e para lá. Se em terras muçulmanas vivi sempre escoltada na mais recatada segurança devido aos perigos a que os ocidentais estavam expostos, já por terras da África Negra subi palmeiras, apanhei ananases, comi ostras do alguidar e era das poucas meninas brancas na escola!
Tenho muito viva a lembrança de estar constantemente a pedinchar comida do prato do Zé Preto (nome que carinhosamente dávamos ao rapaz que trabalhava lá em casa, que nas horas vagas era o nosso melhor amigo de brincadeiras). Apesar de ter o meu almoço, o dele parecia-me sempre muito mais apetitoso. Ainda hoje tenho o sabor daquelas iguarias guineenses na boca e a recordação daqueles cheiros no olfacto!
Já adulta, aquando das minhas viagens e a despeito dos meus escassos 50 kgs, sempre fui muito lambona (como o meu saudoso Pai me dizia). Viajar sem experienciar a gastronomia local não era uma possibilidade. Aliás, seria absurdo não o fazer. Não me lembro de, nem me ter recusado experiência alguma ou nem de me ter arrependido de nenhuma! A verdade é que sou muito aventureira, se a carne de cobra é que era boa, então embora lá, e cobra estufada para cima!
Frequentei alguns cursos de línguas no estrangeiro, pois essa era uma forma relativamente económica de viajar. Normalmente nesses programas as aulas ocupam as manhãs e a maioria das tardes e fins-de-semana estavam por minha conta. Foi neste contexto que, munida de mapas, calcorreei muitas cidades, vi muitos museus, petisquei em trattorias e bebi chocolates quentes em climas frios.
Também regressei a Portugal no dia da Consoada para poder conhecer feiras de Natal por essa Europa fora. Houve cidades a que regressei mais do que uma vez, tal foi a marca que elas deixaram em mim. Por vezes o retorno revelou-se maravilhoso, por vezes acabou na certeza de que dizia um último adeus àquele lugar...
Também me aventurei a tal ponto que o meu Pai desesperou em terras lusas o tempo todo, jurando que se meteria num avião para me ir buscar a lugares menos amistosos. Houve também um lugar que me marcou indelevelmente. Um lugar no outro lado do mundo em todos os sentidos, mas que não sei por que mágicas, me pareceu o lugar onde devia ter nascido e de onde nunca devia ter saído. Foi talvez a mais mágica viagem da minha vida. Em terras tailandesas, senti-me nativa. Cirandei sozinha em plena luz da lua, em ruas movimentadas de uma língua estranha, onde regateei preços e desbaratei sorrisos porque me sentia, simplesmente feliz!
Também recordo com intensidade as tardes tórridas passadas em Volubilis, antiga cidade romana, onde pernoitei por quinze dias na companhia de uma grande amiga. Viagem recheada de aventuras que quase levaram o meu Pai a meter-se no avião para nos resgatar.

Umas foram andanças solitárias, outras nem tanto, mas foram todas viagens prazerosas que deixaram marcas profundas na minha maneira de estar no mundo e de senti-lo. Hoje, debatendo-me diariamente com dificuldades económicas, as viagens não estão na mira de um longo prazo, sequer. Por ora, contento-me, nas idas a Lisboa, com uma passagem no Martim Moniz pelos bazares estrangeiros, onde adquiro produtos alimentares que me permitem viajar kilómetros e percorrer culturas, sem sair das paredes da minha cozinha... 

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