Ah pois é!
Em tempos de confinamento social, devido à pandemia do Covid19, ficámos todos reduzidos à igualdade. As epidemias à escala global oferecem-nos estas lições de vida.
Historicamente, as pandemias têm o condão de brindar a Humanidade com a tão almejada Igualdade. Embora esse conceito esteja na boca do mundo, poucos são aqueles cuja língua não é traída pelos comportamentos e ações.
Já tenho vertido muitas letras sobre o preconceito que ensombra os portadores de doença mental. Como membro dessa comunidade já vivi e presenciei o samaritano humanitário a desprezar os loucos. A minha experiência nestas lides é tal, que adquiri a capacidade de "ouvir" a cara daqueles que dizem desprezar quem nos despreza. E da cara ecoam outras palavras…
O preconceito é fruto da ignorância, do desconhecimento e falta de informação. Se nem todos podemos ser informados e gostar de procurar informação, todos temos o dever de estar quietos e calados, mesmo tendo vontade de menosprezar e maltratar alguém gratuitamente.
Há uns tempos, gente de valores dúbios, empenhou-se em destruir a minha família (por motivos que não vou mencionar) apropriando-se do facto de eu sofrer de doença bipolar. Não foi difícil inventar umas larachas bizarras para ser incriminada. Afinal, ser-se bipolar ou agressora e criminosa era a mesma coisa. Não houve lugar a grandes averiguações, dado que a bipolaridade seria em si a explicação.
Algumas das pessoas que tomaram parte neste "evento", são exatamente as mesmas que, publicamente e, através dos seus cargos também públicos, se pavoneiam em escolas e sessões, apregoando os valores da igualdade, da tolerância e da paz entre todos. Pior, há quem esteja ligado ao ensino. E, revolveu-me as entranhas saber que disseram ao meu Filho, na escola, que a mãe era maluca. Eis ao que chega a maldade dos tolerantes dissimulados.
O meu Filho, quando tinha seis anos, ao ser arrastado para esta mar de maldade, não conseguia compreender por que razão o facto de a mãe ter uma doença era motivo de gozo. A sua lógica era muito simples - porque gozam, se podem ficar doentes? Sempre soube que o M. era uma criança inteligente. Mas dada a sua tenra idade, pergunto-me: ele é muito inteligente, ou há adultos demasiados estúpidos? Fica a pergunta no ar.
Contextualizado o problema da discriminação, dos efeitos nefastos e devassos do estigma nos doentes e respetivas famílias, passo ao cerne da questão.
Em séculos idos, também as pestes atingiram camponeses, clérigos e nobres, tanto inferiores, superiores e poderosos entre si, em vida, como reduzidos a ossos, todos iguais, na morte. Tempos que esporadicamente foram contrariando a ideia de que existem pessoas mais importantes do que outras. Épocas que reduzem os homens à mesma pobre igualdade, grandeza ou insignificância.
Nas Catacumbas de Paris, a visão de milhares e milhares de ossos, que nem a vista alcança, depressa nos transporta para a certeza de que, um dia, também os nossos ossos se confundirão com todos os outros. A Capela dos Ossos, em Évora, integra essa corrente social, que invadiu toda a Europa, também ela invadida por epidemias mortíferas e em grande escala.
Já tenho vertido muitas letras sobre o preconceito que ensombra os portadores de doença mental. Como membro dessa comunidade já vivi e presenciei o samaritano humanitário a desprezar os loucos. A minha experiência nestas lides é tal, que adquiri a capacidade de "ouvir" a cara daqueles que dizem desprezar quem nos despreza. E da cara ecoam outras palavras…
O preconceito é fruto da ignorância, do desconhecimento e falta de informação. Se nem todos podemos ser informados e gostar de procurar informação, todos temos o dever de estar quietos e calados, mesmo tendo vontade de menosprezar e maltratar alguém gratuitamente.
Há uns tempos, gente de valores dúbios, empenhou-se em destruir a minha família (por motivos que não vou mencionar) apropriando-se do facto de eu sofrer de doença bipolar. Não foi difícil inventar umas larachas bizarras para ser incriminada. Afinal, ser-se bipolar ou agressora e criminosa era a mesma coisa. Não houve lugar a grandes averiguações, dado que a bipolaridade seria em si a explicação.
Algumas das pessoas que tomaram parte neste "evento", são exatamente as mesmas que, publicamente e, através dos seus cargos também públicos, se pavoneiam em escolas e sessões, apregoando os valores da igualdade, da tolerância e da paz entre todos. Pior, há quem esteja ligado ao ensino. E, revolveu-me as entranhas saber que disseram ao meu Filho, na escola, que a mãe era maluca. Eis ao que chega a maldade dos tolerantes dissimulados.
O meu Filho, quando tinha seis anos, ao ser arrastado para esta mar de maldade, não conseguia compreender por que razão o facto de a mãe ter uma doença era motivo de gozo. A sua lógica era muito simples - porque gozam, se podem ficar doentes? Sempre soube que o M. era uma criança inteligente. Mas dada a sua tenra idade, pergunto-me: ele é muito inteligente, ou há adultos demasiados estúpidos? Fica a pergunta no ar.
Contextualizado o problema da discriminação, dos efeitos nefastos e devassos do estigma nos doentes e respetivas famílias, passo ao cerne da questão.
Em séculos idos, também as pestes atingiram camponeses, clérigos e nobres, tanto inferiores, superiores e poderosos entre si, em vida, como reduzidos a ossos, todos iguais, na morte. Tempos que esporadicamente foram contrariando a ideia de que existem pessoas mais importantes do que outras. Épocas que reduzem os homens à mesma pobre igualdade, grandeza ou insignificância.
Nas Catacumbas de Paris, a visão de milhares e milhares de ossos, que nem a vista alcança, depressa nos transporta para a certeza de que, um dia, também os nossos ossos se confundirão com todos os outros. A Capela dos Ossos, em Évora, integra essa corrente social, que invadiu toda a Europa, também ela invadida por epidemias mortíferas e em grande escala.
Hoje, assistem-se a fenómenos estranhos. No mesmo prédio, onde cai a lágrima, ao ouvir a notícia de que o médico acabou de salvar outra vida, risca-se-lhe o carro, por ter lá o seu apartamento, e ter o descaramento de ir lá descansar, depois de um turno de 48 horas, a tentar salvar mais uma vida, mas ainda assim, tem a ousadia de poder vir a contaminar os vizinhos.
Mas será que ocorre aos habitantes desse prédio que, numa ida ao supermercado, poderão, também eles, voltar contaminados, e por sua vez, ostracizados por quem, há dias atrás, discriminava em uníssono consigo?
A minha experiência, infelizmente, diz-me que a discriminação, apesar de sintomática do calibre social, mental e humano de quem a pratica, investe o seu agente de uma presumida superioridade face ao alvo. O mesmo é dizer que a pessoa que incorre no crime da discriminação julga-se legitimamente impune face à sua prática. Numa linguagem mais bárbara, o mesmo é dizer que, aquele que discrimina coloca-se a si mesmo num plano de superioridade, face a outras camadas populacionais. E eis-nos numa idade social, pouco mais evoluída, do que a dos tempos medievais.
Não sou versada em Antropologia ou Sociologia, mas recorrendo a alguns conhecimentos científicos e à minha experiência pessoal, de muitos anos como vítima de preconceito, permito-me ter uma opinião formada acerca do tipo de pessoas que adota estas posturas.
Infelizmente, muitas pessoas, julgando-se num ilusório plano de superioridade pessoal, social e intelectual, encontram-se tão convencidas da realidade da imagem que fizeram de si mesmos, que, quando cai o pano, e se apercebem que valem tanto, ou tão pouco como todos os outros, sofrem. Sofrem porque só sabem viver ostracizando e inferiorizando os denominados diferentes. Só aí, conseguem cair na sua vulgaridade e, com sorte, se apercebem que também fazem parte deste bolo que é a Humanidade.
Nesta Humanidade, em tempos idos, apedrejavam-se os leprosos. Mas as leprosarias estavam povoadas por muitos daqueles que, meses antes, se riam e atiravam pedras e esses pobres excluídos, grupo a que passaram a pertencer.
Há fenómenos que têm destas coisas. A lepra, a peste negre, a SIDA, a COVID19, a loucura…
Reduzem-nos à igualdade.
Pena que seja desta maneira, mas a verdade é que me agrada ver que, quer queiramos, quer não, agora todos espreitamos pela mesma janela...
Mas será que ocorre aos habitantes desse prédio que, numa ida ao supermercado, poderão, também eles, voltar contaminados, e por sua vez, ostracizados por quem, há dias atrás, discriminava em uníssono consigo?
A minha experiência, infelizmente, diz-me que a discriminação, apesar de sintomática do calibre social, mental e humano de quem a pratica, investe o seu agente de uma presumida superioridade face ao alvo. O mesmo é dizer que a pessoa que incorre no crime da discriminação julga-se legitimamente impune face à sua prática. Numa linguagem mais bárbara, o mesmo é dizer que, aquele que discrimina coloca-se a si mesmo num plano de superioridade, face a outras camadas populacionais. E eis-nos numa idade social, pouco mais evoluída, do que a dos tempos medievais.
Não sou versada em Antropologia ou Sociologia, mas recorrendo a alguns conhecimentos científicos e à minha experiência pessoal, de muitos anos como vítima de preconceito, permito-me ter uma opinião formada acerca do tipo de pessoas que adota estas posturas.
Infelizmente, muitas pessoas, julgando-se num ilusório plano de superioridade pessoal, social e intelectual, encontram-se tão convencidas da realidade da imagem que fizeram de si mesmos, que, quando cai o pano, e se apercebem que valem tanto, ou tão pouco como todos os outros, sofrem. Sofrem porque só sabem viver ostracizando e inferiorizando os denominados diferentes. Só aí, conseguem cair na sua vulgaridade e, com sorte, se apercebem que também fazem parte deste bolo que é a Humanidade.
Nesta Humanidade, em tempos idos, apedrejavam-se os leprosos. Mas as leprosarias estavam povoadas por muitos daqueles que, meses antes, se riam e atiravam pedras e esses pobres excluídos, grupo a que passaram a pertencer.
Há fenómenos que têm destas coisas. A lepra, a peste negre, a SIDA, a COVID19, a loucura…
Reduzem-nos à igualdade.
Pena que seja desta maneira, mas a verdade é que me agrada ver que, quer queiramos, quer não, agora todos espreitamos pela mesma janela...
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