quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A minha existência singela


 
Não guardo segredo da minha vida pacata. Longe vão os tempos do ram-ram e da loucura do dia-a-dia. Longe vão os tempos em que que para me encontrar com as amigas tinha de arranjar um buraco na agenda. Longe vão os tempos em que as noites eram longas e passadas entre bejecas e palavras soltas com amigos e amigas do coração. As amizades sólidas foram-se consolidando, até se tornarem capazes de resistir à ausência física. A vida foi ganhando novos contornos, as exigências do dia-a-dia foram condicionando as minhas escolhas, e hoje, sinto-me cingida a uma existência singela. Como nem sempre a singeleza é sinónimo de monotonia, preencho os meus dias com tarefas que me preenchem. Mulheres que marcaram indelevelmente a minha vida, partiram em busca de melhores condições por esse mundo fora. Laços profundos permitem que os sentimentos não se abalem pela distância... Hoje, mais fisicamente só que nunca, sinto um preenchimento pouco passível de verbalizar. De pazes feitas com o mundo, em paz comigo mesma vou passando pelos dias da semana, do mês, do ano...
Entre família, horta e livros vou dividindo o meu tempo, sem esquecer as tarefas que me prazenteiam. Não trabalho fora de casa, os horários que cumpro são os que estabeleço para mim, mas a verdade é que, como toda a gente, chego ao fim do dia exausta e necessitada de um sono reparador. Não posso afirmar que não existem, para mim, fatores de stress, pois existem, e muitos. O stress não se esgota no emprego, como é natural.
Costumava ser uma mulher de ambições profissionais. Para mim, a vida não seria sentida sem uma carreira proeminente. Hoje, após três anos do nascimento do meu Filho, não poderia estar mais em desacordo com esta forma de estar na vida. Também passadas algumas perdas de entes muito chegados, a vida ensinou-me que tudo se relativiza, tudo se resolve, e que a felicidade é composta de pequenos nadas.
Por vezes, dou por mim na horta e a vizinhança lá de baixo a passar, vai dizendo: Está ao solinho a cuidar da horta? Tem de se entreter com alguma coisa! GRRRR Isto deixa-me piursa! O que não falta na minha vida singela são tarefas e afazeres que faço questão de manter quotidianamente. E sim, o ócio é uma parte da vida, também tenho os meus momentos, embora confesse que gostaria de me sentir mais tranquila na minha ociosidade.
Tenho bicho carpinteiro, herdei isso do meu saudoso Pai. A ausência de uma atividade profissional faz-nos perder a identidade, a motivação, a vaidade, blá blá blá... Não posso concordar. Mais motivada para a vida que nunca, mais cuidada que nunca, e mais ciente do meu lugar no mundo do que nunca, vou gozando a minha existência singela...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

De volta ao paraíso

Adoro fazer planos, tudo para mim tem que ser planificado. Desde a ementa do piquenique às viagens, os documentos que estudo têm vez marcada, etc., etc..
Hoje, o meu testemunho surge em tom de desabafo e não tanto em tom de justificação. Não é segredo para ninguém que sou uma mente inquieta e irrequieta, chamam-lhe bipolar com ciclotimia, eu prefiro chamar-lhe, ocasionalmente, um lote no Inferno. Acho, não sei, que não sou pessimista nem lamechas, mas a verdade é que quando o tsunami vem, me torno a pessoa mais triste do mundo!
Sim, esta é a História da minha vida, entrar e sair da toca. Agora bem me posso dar por feliz e contente porquanto as crises vão sendo cada vez mais espaçadas, os tratamentos crónicos fazem destes milagres...
Desta feita ia morrendo por negligência médica. Fui injetada com um fármaco desadequado e o meu mundo ruiu passado nem uma hora. SOS Mother, planos furados e Natal estragado, foi o excelente resultado da sapiência de um lunático que se faz passar por médico no HCB. Adiante... Mas nem tudo nesta vida é negro e mau, aprendi a não confiar nos médicos que desconheço...eles também se enganam, não deviam, mas enganam-se...
Adiante...
Agora sinto-me novamente feliz, retomei os meus hábitos, rotinas, tarefas e alegrias! Pela enésima vez na minha existência, renasci para a vida. Certamente que reformulei algumas escolhas, repensei nalguns hábitos. Habitualmente, depois de um desaire, surge uma nova aprendizagem. São lições que a vida nos vai dando, e mais não tenho do que aproveitá-las. Descobri, ou melhor, redescobri que adoro o meu Marido que me cuidou, vestiu e lavou durante este episódio dramático. Mais do que nunca valorizei a minha família e os meus amigos.
Não tenho a ilusão de ter apenas aprendido, pelo meio houve muito sofrimento psíquico e físico. A verdade é que quando as coisas não correm como gostaríamos infligem-nos sofrimento. Não me alheio dele... lembro-me todos os dias da "lobotomia" que faço tudo para esquecer. Tropeço, embora com cada vez menos frequência, em esquecimentos e baralhação. Ainda não recuperei do baique, mas caminho galopantemente para a minha costumeira vivacidade. Enfim, quase de volta ao paraíso...