sábado, 6 de maio de 2017

Ser-se Bipolar... A vida por um fio

Imagem retirada da internet

Este, como sendo um blog de tudo e de nada, hoje, apetece-me fazer correr tinta sobre o tema da bipolaridade. Ao longo da vida, como toda a gente, tenho passado por maus e bons bocados. Mas sem dúvida que a bipolaridade foi para mim um enorme infortúnio. 
Vivo a vida, não ao sabor de um tempo normal, mas ao segundo. Na verdade nunca sei o que o futuro imediato me reserva em termos de saúde mental. Se de manhã me sinto bem, nunca sei como vai acabar o meu dia. É desconcertante ter uma enorme lista de coisas para fazer e fazê-la apenas pela metade, porque a neura e a irritabilidade se apoderaram de mim num repente e me dispararam para o cantinho dos meus lençóis onde me refugio sem querer ver, ouvir ou falar com ninguém! No dia seguinte, com sorte, as coisas mudaram, ajusto a medicação aos sintomas e rogo para que tudo passe e a normalidade se instale de novo na minha vida.
Ser-se bipolar é viver-se com uma intensidade incomum, é sentir tudo a triplicar. A tristeza é avassaladora e toma contornos altamente depressivos e auto-destrutivos. Ao invés, a alegria é eufórica, a energia electrizante e a vida gira a mil rotações por minuto! Ser-se bipolar é ser-se estranho aos olhos do mundo. Ao longo de grande parte da minha vida fui tida como bizarra pelos meus comportamentos extravagantes em alturas de hipomania, e pelos meus misteriosos desaparecimentos em fases de grande depressividade.
Mas, ainda assim, atrevo-me a gritar ao mundo que sou feliz. Possuo aquela felicidade de saber que a verdadeira essência das coisas está nos gestos simples, nos pequenos actos, beijos, abraços, uma flor colhida no quintal, ou mesmo numa lufada dos ares da montanha. Descobri que o segredo da felicidade se prende com a valorização da normalidade, da banalidade e mesmo da rotina da vida.
Quando caio numa cama, me sinto miserável e auto-destruidora e parece que o mundo inteiro me caiu em cima, sou incapaz de ver a felicidade onde quer que seja. Ela é como o pote de ouro na base do arco-íris... por mais que eu a tente alcançar, ela parece teimar em fugir porque, simplesmente, não está ao meu alcance, tal é a intensidade da minha miserabilidade.
Hipomaníaca, incapaz de ser alcançada por qualquer pensamento mais negro, invade-me uma ilusória felicidade que me eleva aos píncaros da actividade. Sou possuída por uma energia ímpar e alegria contagiante que me permite ser a super-mulher que nunca consegui ser. Mas, como tudo nesta doença, é um presente envenenado. Na verdade, tamanha felicidade tem o preço de uma grande depressão. Quanto mais alto se voa, maior é o precipício que se vai ter pela frente. Mais uma vez urge ajustar medicamentos para travar o excesso de energia.    
No meio dos extremos está a minha paz interior, a almejada normalidade de uma vida rotineira em que vivo e sou feliz. Uma vida que aprendi a amar, uma saúde mental que aprendi a valorizar e uma integridade física que aprendi a proteger. 
Ser-se bipolar é isto, é viver na corda bamba, é não saber o que esperar de mim, é a certeza da eterna inconstância. Ser-se bipolar é também transportar ciclicamente uma dor de alma atroz e arrebatadora, mas é também ser dona de uma felicidade explosiva. Ser-se bipolar significa levar a vida num eterno baloiçar em que se procura aprender a viver assim, leva-se uma vida a aprender a viver assim e nunca, verdadeiramente, se aprende porque constantemente se sente a vida por um fio...
 

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