sábado, 20 de fevereiro de 2016

Espaços exíguos

 
Moro numa casa de granito com cerca de 60 anos. Pouco adaptada aos dias e necessidades de hoje e com compartimentos exíguos, manter a  ordem e arranjar lugares para tudo é uma perfeita aventura. Para se ter uma ideia, no meu quarto apenas cabe a cama, uma sapateira e um armário de parede.
Quando me mudei, há cerca de três anos, tive de meter mãos à obra para transformar uma casa de veraneio numa casa para viver. Confesso que ainda hoje, volvidos três anos, continuo com essa tarefa em mãos. Aos poucos vou conseguindo adquirir utensílios e arranjar soluções adaptadas às nossas necessidades. Uma família de três pessoas onde há uma criança ocupam algum espaço! O espaço pequeno por si só não foi o maior desafio, mas a conjugação entre este, uma tonelada de tralha e compartimentos minúsculos.
Quando aqui cheguei, trouxe comigo caixas e mais caixas de coisas. Desde roupa a panelas passando por bicicletas, veio de tudo um pouco. Por seu turno, a casa já dispunha de algumas coisas indispensáveis para passar uns dias de férias. Desta forma, poucas, mas algumas coisas se duplicaram, o que contribuiu para o acrescento de tralha! Quatro quartinhos pequeninos, um salão e uma cozinha pequena, o que fazer??
 
- Em primeiro lugar urgia tratar daquilo que para nós era o mais importante: a cozinha. Postas as máquinas de loiça e de roupa, não nos sobrava senão um espacinho para uma mesa de refeições. Por diversos motivos isso azucrinava-me a cabeça porque, devido à falta de espaço, as tarefas eram desempenhadas com o dobro do esforço, já para não falar na pilha de nervos que apanhava ao tropeçar constantemente no caixote do lixo! Por outro lado, desculpem-me o pedantismo, acho degradante comer sistematicamente na cozinha! Nós mulheres, que tentamos dar o melhor de nós pelas nossas famílias, temos o direito de usufruir das nossas refeições em espaços agradáveis e adequados. Gosto de aproveitar o jantar para pôr a conversa em dia com os meus. A primeira medida foi tomada, o quarto contíguo à cozinha foi transformado em sala de jantar. De resto, algumas prateleiras nas paredes com os frascos das mercearias, um suporte de vassouras e um varão metálico de parede para as panelas, deixando livres os armários para as loiças, formas, detergentes e afins tornaram a cozinha mais "limpa", espaçosa e funcional.
 
- Os restantes compartimentos/quartos reservavam um novo desafio. Em nenhum deles cabia um roupeiro. Que fazer a tanta roupa? Foi assim que optei por transformar o quarto que ainda tinha livre num roupeiro gigante (o que hoje, pomposamente, se denomina por closet). As paredes foram forradas a prateleiras suspensas por puleias, varões e cabides. Este espaço passou a ser destinado à roupa de vestir e às caixas onde guardo tudo o que sazonalmente é posto a uso. Na parede tenho também um suporte para o ferro de engomar, para o aspirador, cabides com suportes para lenços, armários baixos de gavetas em rede, etc.. Não se julgue, contudo, tratar-se de um grande compartimento, mas apenas de um compartimento atafulhado que, com muito esforço e dedicação, se vai mantendo organizado. 
 
- O meu quarto, liberto da preocupação de ter um lugar para a roupa, reservou-nos um espacinho para um armário de parede onde guardo cremes, perfumes e afins. Uma sapateira de parede supriu o problema da arrumação dos sapatos. É importante dizer que tive de vender a cama que cá estava e arranjar uma mais pequena, pois era a cama ou eu! Na parede por cima da cama, preguei uma prateleira que serve de mesa de cabeceira. Para libertar o closet, coloquei os lençóis numa caixa transparente por debaixo da cama. Não estiquei o quarto, mas consegui soluções práticas para rentabilizar o mais possível um compartimento tão pequeno!
 
- Ainda assim continuava a sobrar tralha desterrada e falta de um compartimento para trabalhar. Sobrava apenas o salão! Como compartimento maior da casa, foi uma espécie de tábua de salvação e ao mesmo tempo tem sido um grande desafio. A verdade é que ainda hoje não está totalmente ao meu contento, mas aos poucos, puxando daqui e arrastando para ali, lá vou desanuviando a coisa. Uma coisa que aprendi com a minha mãe, versada em belas-artes, foi o facto de que os mesmos objetos dispostos de determinada maneira, ocupam "menos espaço". O difícil está em encontrar a disposição perfeita. Para mim tem sido um pouco tentativa erro. Posso dizer que o R. já anda um bocado farto de andar a arrastar móveis. Não é preciso dizer que o escritório "sobrou" para o salão, onde construi uma pequena zona de trabalho, junto à janela, bastante soalheira e acolhedora!
 
- O WC também foi uma aventura! Para além das peças de loiça básicas, nem toalheiros decentes tinha. Já para não mencionar a exiguidade do espaço. Mais uma vez aproveitei as paredes. Uma prateleira de vidro para cada um, um suporte para toalhas limpas e caixa dos detergentes, um toalheiro triplo para toalhas de banho e outro para as de mãos. Mais um compartimento arranjado! 
 
Feito o testamento, não quero com isto concluir que resolvi totalmente o problema de habitabilidade da minha casa. Tenho ainda muito a fazer. Mas uma coisa é certa, a casa não estica e eu, ciente de que ficarei por cá muitos e muitos anos, muito tenho ainda a fazer. Certamente que o correr dos anos vai ditando as necessidades. O M. vai crescendo, a seu tempo precisará de lugar para as coisas da escola, da sua secretária, de suportes para os seus CD's, etc...
 
Para terminar é importante vincar a ideia de que uma casa nestas condições (pouco espaço e muita tralha) exige o dobro do trabalho. Não é fácil mantê-la arrumada, limpa e organizada. E esta é mais uma aventura na minha casinha de pedra polvilhada de espaços exíguos...

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