quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O balanço de mais uma experiência....

Na semana passada fui à TV falar de maternidade e doença mental, na qualidade de mãe bipolar. Foi uma experiência enriquecedora e muito positiva. Na verdade, não pensei que pudesse ter sido tão importante como foi (dentro da sua relativíssima importância, claro está!).
Ao longo destes últimos dias tenho ouvido um feedback bastante positivo no que concerne à questão da importância de se debaterem publicamente problemas relacionados com a saúde mental, ainda tão estigmatizada em Portugal.

Confesso que estava bastante nervosa, não por falar do que falei, mas por sentir aquelas caras, câmaras e luzes voltadas para mim. Mas enfim, lá respirei fundo, fingi que ia dar uma aula, e cá vai disto! Falar de doença mental, como já se percebeu, não é tabu para mim. Apesar de ter sofrido muito ao longo da vida com comentários desagradáveis, atitudes pouco nobres e abusos psicológicos, por padecer de tal mal, não me coibo de apregoar aos ventos que tenho uma doença mental. Não que ande para aí a falar por falar, claro está. Bem pelo contrário, para ser muito honesta comigo mesma, o meu caso interessa-me muito pouco. Tomo a minha medicação, tenho um grande apoio de familiares e amigos, logo o meu caso está remediado. Preocupam-me essencialmente as pessoas que não se tratam por vergonha ou preconceito. O meu interesse na divulgação deste problema passa essencialmente por aí.

Conheço muitos casos tristes de pessoas que vivem uma vida infernal e doentia por temerem o tratamento. O grande mal é que a medicação psiquiátrica tem muito má fama. Coisa que de facto eu não entendo! Postas as coisas desta maneira será que faz algum sentido eu dizer - o meu medicamento diário para a tensão arterial é imprescindível, mas a minha medicação psiquiátrica faz-me mal!? Não, claro que não!

Voltando à experiência sobre a qual me apraz versar, a minha ida à TV, uma das coisas que mais me tem dado que pensar tem sido o facto de as pessoas que me abordam acerca da minha entrevista, me dizerem essencialmente que eu fui muito corajosa por me expor. Pois eu não me sinto minimamente corajosa! De facto, ponho as coisas de outra maneira. Eu simplesmente aceitei falar abertamente sobre um assunto tabu! Em vez de corajosa, eu diria, aberta e despreconceituosa. Será que alguém concorda comigo?

Sim, de certa forma, precisei de alguma coragem, na medida em que tive de fazer referência a episódios muito íntimos da minha vida para que as pessoas pudessem compreender a dimensão destes problemas. Mas acima de tudo acho que aceitei discutir abertamente o tema da doença mental.

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa mais do tipo solitária. Talvez por causa da doença, não sei, tenho necessidade de me refugiar no barulho do meu silêncio. No entanto, longe do contexto laboral, que há muito abandonei, não tenciono deixar de dar o meu contributo ao mundo. Se, por ventura, consegui mudar uma só cabeça em relação à questão da saúde mental e do estigma que ela arrasta consigo, já encosto a minha cabeça na almofada satisfeita!





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