quinta-feira, 3 de maio de 2018

Enquanto eu acreditar, acontecerá


 
Há coisa de nove meses, que não aparecia por aqui. O canto não ficou esquecido, mas temporariamente abandonado. Por vezes é preciso reformular a vida. Há abanões que levamos que têm o condão de nos acenar com a felicidade de uma vida simples, humana, sincera e, porque não, sempre igual.
Eu, que há muito me sentia feliz comigo, com a minha alma e o meu corpo, dei por mim a descer um poço fundo, lamacento e horripilante. Mas a verdade é que, mesmo no fundo de um poço, quando se ergue a cabeça, é possível ver a luz do sol.
Os últimos nove meses reservaram-me dificuldades, grandes desafios, aborrecimento, cansaço e problemas de saúde que me derrubaram. Há cerca de um mês fui submetida a uma neurocirurgia complexa e profunda à coluna. Passados uns dias sem me conseguir mexer, comecei a dar uns passos. À saída do hospital, já era dona de um andar vacilante e hesitante. Nas primeiras semanas, senti-me um copo de cristal, prestes a desfazer-se. Embora a saúde, no passado, já me tivesse falhado severamente, nunca eu me tinha sentido tão frágil.
A minha Mãe veio passar uma temporada connosco para deitar a mão. Com um miúdo pequeno e o Marido a trabalhar, não é fácil. Apesar de, ao início, precisar de ajuda para tomar banho, vestir-me, descer escadas e afins, aos poucos as coisas foram regressando ao lugar. Hoje, já faço pequenos cozinhados, arrumo roupa, faço caminhadas um pouco maiores. Ainda não conduzo e não me visto completamente sozinha. Tenho de andar com uma cinta com barras de metal para não me sentir uma gelatina prestes a desfazer-se.
As dores são outra conversa. Nunca na vida eu pensei que as pudesse suportar a este nível. Apesar de estar com analgésicos fortes, elas cansam a minha cabeça. Apanhei uma infeção pós-operatória e já vou na sexta caixa de antibiótico.
Isto está a parecer conversa de sala de espera de Centro de Saúde, mas tem um propósito. Com todas estas dificuldades físicas inerentes ao pós-operatório, não foi difícil perceber quão boa era a minha vida. É certo que o problema que me levou à necessidade da intervenção cirúrgica não me estava a ajudar. Agora, contudo, tenho a consciência que a curva é ascendente. As coisas vão melhorar. Foi-me oferecida uma segunda vida, e eu vou aproveitá-la ao máximo.
Faço grandes planos para o futuro. Adivinho dias vindouros cheios de alegria, novas experiências, consolidação de laços e muitos e muitos planos de diversão em família. Já aqui tenho dito muitas vezes, não há coisa que seja mais importante para mim do que a família. Quanto à que eu constituí, sou a matrona típica. Levo esta casa para a frente, trato, cuido, organizo, mando e desmando. Canto e danço ao som da música pimba da rádio local, enquanto mexo a panela e o miúdo se ri, ou me diz que danço mal e ele é que sabe como é.
A vida vai voltar a sorrir-me. Tenho a certeza disso. Há momentos da vida que não são fáceis. A par das dificuldades do pós-operatório, enfrento problemas graves que não me estão a deixar recuperar merecidamente. Mas enquanto eu acreditar que a tempestade passará, que eu não baixarei os braços face às adversidades, eu terei forças para fazer chegar o barco à Terra Prometida!

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