O Livro Negro do Comunismo

À exceção de alguns temas específicos, não é meu hábito fazer de leituras de "trabalho", leituras de lazer. Mas quando o faço, as minhas escolhas giram em torno de testemunhos de vidas vitimizadas por regimes atrozes, esqueletos desses regimes ou descrições de mundos exóticos e diferentes numa tentativa de construção de alteridade. Pessoalmente, apraz-me analisar antes de emitir julgamentos. Já tinha lido muita coisa sobre regimes comunistas um pouco por todo o mundo. No entanto, este estudo tem o condão de perspetivar os acontecimentos  de forma diacrónica. Desta forma permite-se ao leitor estabelecer, além de uma cronologia muito rigorosa, as caraterísticas especificamente nacionais assumidas pelas diferentes culturas que chamaram a si este monstro ditatorial.

Mais do que um exímio estudo científico, consegui olhar para além da historiografia, vislumbrando o pior da natureza humana, curiosamente, numa altura da vida em que pude observar de perto essa mesma podridão. Para os dirigentes destes regimes, os seus interesses valeriam qualquer sacrifício humano. Fome, devastação, tortura, vingança, ganância. A hipocrisia de quem matava o povo em defesa desse mesmo povo. Foram tempos e lugares em que os mais simples aproveitavam os ódios pessoais contra este ou aquele para pretexto de acusações contra revolucionárias. Pessoas que acabavam em valas-comuns, julgadas em hasta pública, cuja defesa não interessava, nem tão pouco a matéria do "crime", invariavelmente inexistente. Mas isso não tinha interesse. No dia seguinte, era o acusador o acusado e o povo matava-se ao sabor das suas frustrações.

Quanto à classe política, como disse Estaline - Ninguém é insubstituível - o sangue também foi derramado, livraram-se os mais fortes, se é que ser abjeto e mau é ser-se forte. Não deixou de ser bastante interessante aprender que Che Guevara, afinal, era oriundo de famílias ricas, tinha sede de poder e, à semelhança de todos os outros, sonhou com um grande derramamento de sangue de milhões de pessoa e teorizou quotas de mortandade, como única forma de fazer vingar o comunismo.

Recebeu-se Fidel Castro com pompa em Portugal, como um herói e grande estadista. Terá sido realmente um grande homem na sua missão de matar e torturar outros homens. 

Comum a todos estes arquitetos da maldade foi o uso da fome como arma de subjugação. Estranhas são as formas como os homens, sequiosos sabe-se lá do quê, exercem toda a sua maldade sobre os seus pares. Ser-se criança, homem, mulher ou velho não comovia estas personificações do diabo. Regimes que matavam adolescentes inteligentes e alunos de sucesso, como forma de prevenção contra a sublevação, para mim, não são dignos de vassalagem. Intriga-me o fenómeno comunista contemporâneo, já me intrigava antes da leitura desta obra, mas agora intriga-me ainda mais.

Sem dúvida, uma leitura extraordinária e muitíssimo enriquecedora. A pôr na lista das leituras de uma vida!

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