sábado, 8 de agosto de 2015

Gerir o orçamento doméstico

Desde que iniciei uma nova vida, este tem sido um tema bastante delicado para mim. Habituada desde sempre a não ter que fazer contas à vida, vejo-me agora a braços com uma família de 3 em que só um é que trabalha em regime de part-time! Escusado será dizer que pertencemos ao grupo dos quase quarentões que, após uma vida desafogada e pouco habituados a contar tostões, temos de regressar à base, perder a vergonha e pedir auxílio, nem que seja o da família.
Quando viemos aqui parar nem o R., nem eu tínhamos trabalho. Sim, vi-me forçada a pedinchar, durante alguns meses fui à cantina social buscar almoço e jantar. Quando ele se empregou as coisas compuseram-se mas não ficaram muito mais fáceis!
Antes de recorrer às refeições e a quem quer que seja, sofri o mal da fome. Claro que não foi aquela fome desgraçada dos subnutridos, mas uma fome de quem não estava habituada a não ter nada na dispensa que se pudesse trincar! Muitas vezes senti o estômago a clamar por comida, ficando a olhar para as batatas oferecidas pela vizinha, sem pouco mais em casa para comer. Nesse ano para abrir a pestana, perdi 13 kg! Não que me tenha feito mal, pois estava a precisar de os perder!
Por outro lado, com despesas de saúde avultadíssimas, não podendo fazer-lhes face tive de sobrecarregar a minha Mãe com essa despesa. Mais uma vez a vergonha imperou e para não lhe pedir mais, sofri em silêncio o estômago a remoer-se-me e por vezes, privada de medicamentos. Hoje, volvidos quase três anos, sendo também eu mãe, percebi que nada mais errado do que ter escondido estes percalços!
Mas adiante, que as coisas estão mais compostas!
 
Hoje em dia, conto com ajudas externas fixas e sem vergonhas. Mas há despesas que não me deixam grande margem para dúvidas. A gasolina, a alimentação e as contas correntes são da nossa responsabilidade. E imaginem só, mal dá para o gasto!!
 
Vou, aqui partilhar a forma como me organizo neste aspeto. Aliás, como me tento organizar, pois tem sido uma aprendizagem nada fácil por sinal!
 
O R., além de não receber em dias fixos, o salário também não é fixo, o que me obriga a refazer as contas todos os meses! Num dossier anoto as despesas todas sem exceção, vou revendo essas notas e percebendo o que não deveria ter comprado. E acreditem que não estou a falar de óculos de sol, mas sim de detergentes e comida enlatada! Analiso os tikets de supermercado para ver quais os produtos que tenho de dispensar. Hoje em dia, posso orgulhar-me de adquirir quase exclusivamente produtos de IVA a 6%!
 
O combustível é muito pesado do ponto de vista orçamental, pode mesmo afirmar-se que uma grande fatia do bolo vai para "dar de comer" aos transportes. O Garoto tem que ir para a escola, e o seu grau de ensino ainda não lhe permite usufruir do transporte escolar municipal. A boa notícia é que, daqui a uns aninhos já pode ir na camioneta da Câmara! Quanto ao R. tem, naturalmente de caminhar diariamente ao "ganha-pão"...
A gasolina que ponho no meu carro nunca ascende uma determinada quantia semanal. Todas as segundas-feiras de manhã, rumo em direção à gasolineira do costume. O Marido vai a dias fixos do mês para usufruir de algumas vantagens. Como o carro dele não faz senão esse trajeto, é fácil destinar uma quantia mensal fixa. Já para o meu carro, que está de serviço à família (pois o outro é de dois lugares), as coisas mudam de figura. Nem sempre consigo limitar-me ao orçamento pré-estabelecido. Basta o gaiato adoecer e eu ter de ir ao Hospital da cidade para as coisas descambarem. Não é fácil!
 
Quanto ao dispêndio em farmácia, a triste notícia é a de que não sou auto suficiente. Escusado será dizer que dependo de ajuda materna! Mensalmente ascende a mais de 50 euros em medicamentos, ora eu não trabalho e o R. ganha pouco... é só fazer as contas (ao que eu não tenho, claro está!). Para mim esta é uma grande fonte de preocupação, pois quando a minha Mãe não me puder ajudar, o que será que vou fazer... mas adiante, um dia de cada vez!!
 
Relativamente às contas - água, luz e gás - temos alguns cuidados. A água, apesar de barata, é de consumo bastante contido, pois sabemos que é um bem deveras precioso e não a gastamos inutilmente!
Quanto à eletricidade, temos o cuidado de desligar tudo o que é possível durante a noite; fazer máquinas de roupa na lotação máxima, manter as luzes apagadas, etc... Mas neste campo temos ainda muito que aperfeiçoar e ter maior número de cuidados! O inverno é uma altura crítica, pois a necessidade de nos aquecermos leva a um maior gasto. A minha última decisão neste campo foi fazer uma alteração drástica da potência contratada, desta forma, poupo "à força"!
Quanto ao gás, como é de botija, é mais fácil de controlar. Aqui, mais uma vez os consumos de inverno e de verão são muito díspares, pelo que cada estação é uma nova "aventura"!
 
Relativamente à alimentação, a dieta que estamos de momento a fazer, como é rica em proteínas, é um pouco dispendiosa. Carne, peixe e vegetais são a grande fonte de energia da casa! Assim, uma atenta análise das promoções é deveras importante. Nunca, mas nunca, me desloco ao super sem saber antecipadamente quais os produtos de primeira necessidade que estão em promoção. A elaboração das ementas, permite-me, por seu turno, comprar apenas o essencial. Aos Sábados, sei exatamente aquilo que vou comer durante a semana, pelo que as compras são feitas em função disso. Por outro lado, tenho especificadas as necessidades semanais fixas (2 packs de iogurtes, 6lts de leite, etc), a estas acrescento aquilo que tenho de comprar para confeccionar as refeições e sei que quantias semanais não posso ultrapassar. Quando o dinheiro é, efetivamente muito escasso, faço a lista das compras e revejo-a várias vezes, até reduzi-la ao mínimo que consigo! Com este método tenho poupado muito dinheiro, quer aproveitando as promoções, quer cingindo-me ao estritamente necessário. De resto, quando o dinheiro começa a escassear e o frigorífico começa a ficar vazio vou fazendo jus ao poder criativo para inventar umas receitas com pouca coisa, mas apetitosas! Por outro lado, tenho a sorte de ter horta e vizinhança muito amável que me cobre com bens alimentares oriundos das suas hortas!
 
Para além daquilo que o R. ganha mensalmente, recebemos, dos avós, quantias fixas à laia de mesada, que contabilizamos como rendimentos com destinos muito específicos. Sei exatamente quantos litros de leite posso comprar, em que épocas do ano posso adquirir roupas para o miúdo, etc. Quanto ao abono de família, quando é possível, destino-o á conta poupança do gaiato, quando assim não é, destino-o ao combustível para lhe garantir transporte. Mas uma coisa é certa, o dinheiro do abono, nunca tem um destino diferente!
 
Quanto aos imprevistos, aqui reside um grande problema. A verdade é que atualmente não tenho como os contornar! Por vezes, um imprevisto leva a que tenha de apertar mais um pouco no supermercado, cortar na gasolina, cingindo-me às deslocações estritamente necessárias, ou abdicar de certos alimentos que, não sendo absolutamente essenciais, costumo ter em casa (os iogurtes, por exemplo, em determinadas alturas do mês não constam por cá!). De resto, recorremos à família, sendo que por vezes, nem esta nos pode ajudar. Encaro sempre estas situações com algum stress, no entanto aguardo pacientemente que as coisas se componham. Acima de tudo penso na sorte que tenho em ter um Filho e um Marido transbordantes de saúde! Penso também nas tragédias que reinam à minha volta e acabo sempre por me considerar uma sortuda!
 
Para terminar, resta-me acrescentar que esta nova "versão de vida" me tem ensinado muito. Ao início custou-me bastante não me poder mimar com coisas do meu agrado, aos poucos fui-me habituando a me desprender dos objetos e aprendi, essencialmente a não cobiça-los! Claro que não me esqueço de alguns episódios que, embora de pouca monta, me marcaram e mexeram comigo. Recordo um dia em que fui a um supermercado e de estar a olhar para um grande frasco de manteiga de amendoim (que adoro), querer desesperadamente comê-lo, e não ter um tostão furado para o fazer. Logicamente que não se tratou de um episódio traumático, mas marcou o início de uma fase da vida que me traria novos sabores, dissabores e sentimentos! Hoje, posso afirmar-me feliz com a vida que tenho, habituada a viver com pouco, e contento-me essencialmente em fazer face às necessidades mais básicas da minha vida familiar!
 
E, com muito ou com pouco, façam o favor de serem felizes!
 

Sem comentários:

Enviar um comentário