domingo, 14 de agosto de 2016

Diário de um Ratinho de Biblioteca


Desde muito nova que gosto de ler e de aprender. Não se julgue, porém, que gosto de saber de tudo, pois há assuntos que não me interessam absolutamente nada. Tenho as minhas preferências, como toda a gente. Sociedades e Passado são, para mim, uma mistura encantadora. Por isso, na altura de ingressar no ensino superior, contra tudo e todos, optei por um curso, à partida condenado em relação ao emprego. Mas nada disso me demovia! Era jovem, sonhadora e queria ser uma mulher feliz... Achava que podia ser interessante dar aulas numa aldeia perdida no interior do País e dar continuidade aos estudos.
Ingressei na Faculdade sem grandes dificuldades. Só lamentei não ter ido parar à cidade do Porto. Gosto da cidade, tinha a Messe dos Oficiais para me alojar e achava que sentiria um vago cheiro a liberdade. Com a Cidade Universitária a 15 minutos de casa não podia concorrer primeiramente para a Capital nortenha. Tive de me conformar com Lisboa, cidade com quem sempre estive de costas voltadas...
Os anos do Curso foram conturbados. Tinha sérios problemas pessoais à mistura com profundas depressões que me empurravam para a escuridão do meu quarto durante semanas inteiras. A meio, enterrei o meu Irmão, depois disso achei que era altura de seguir em frente, acabar "num tiro" a minha formação e fazer-me à vida.
O tempo foi passando, a formação pós-graduada foi sendo realizada, conforme sempre havia desejado. A vida profissional, essa, ficou pelo caminho. Hoje em dia não a considero importante. Baixei os braços quanto a isso. Não me importo de me fartar de investigar sem receber um só tostão por isso.
Em termos monetários a vida não é folgada, mas preenche-me. Tenho um grande projeto de investigação em mãos e, recentemente, abracei outro com muito entusiasmo. Acho que não saberia viver de outra maneira.
Não era a típica croma dos livros. Pelo contrário, era a rainha da folia. Noitadas no Bairro Alto e copos, muitos copos, preencheram uma boa parte da minha vida noturna (e não só)! Aos trinta anos, sob pena do álcool me desgraçar a vida, às portas da morte do meu Pai, jurei que nunca mais haveria de beber. E consegui-o até hoje.
Comecei a namorar o meu Marido, casei, tive um Filho, mudei-me para uma casa no campo, desesperei com a falta de dinheiro, mas acabei por me habituar a ela. Mas, como há coisas que nunca mudam, hoje, mais do que nunca, adoro embrenhar-me nos meus estudos e nas minhas investigações.
Dedico os meus dias aos livros e à família. Nos livros encontro a paz interna, na família a realização pessoal. Adoro a minha vida e não conseguiria imaginá-la sem o ato de Aprender. Os assuntos que me fascinam continuam a ter o condão de me arrastar para um mundo que é só meu. Um mundo em que mergulho, qual rato de biblioteca, e compreendo, enfim, que nem todo o dinheiro do mundo compraria tudo aquilo que apreendo através dos meus mais profundos pensamentos...
 

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