domingo, 9 de julho de 2017

Estou cansada


Nestas últimas semanas de vida da minha Vó Lu, dei tudo de mim. Todas as minhas forças foram sugadas culminando numa morte trágica que me deitou por terra, por ter sentido a impotência de não me ter mexido a tempo de lhe trazer dignidade aos seu últimos meses de vida. Mas não me posso culpar eternamente por algo que não fiz, por algo que não me passou pela cabeça que estivesse a ser feito.
Como não sou pessoa de me render às primeiras respostas que me surgem, sinto que começou uma luta amarga, difícil de ganhar. Mas uma  coisa é certa, culpada serei eu se não tentar repor alguma justiça nesta história e chamar à responsabilidade pessoas cujos atos foram negligentes já para não mencionar criminosos!
Como em tudo o que faço, envolvi-me bastante, até demais. Não sou daquelas pessoas capazes de me distanciar das coisas que faço. Isto é, naturalmente uma autocrítica. Já tenho tido muitos dissabores por ser assim. Já fiquei inúmeras vezes doente por me esgotar com todas as minhas energias numa causa. Quando caio no vazio ou quando as coisas me esgotam em demasia, caio doente numa cama.
A minha Mãe disse-me certo dia, e com razão, que eu não me sei distanciar dos problemas do dia-a-dia. A verdade é que sempre me considerei uma inadaptada para o mundo. Quando era mais jovem, incapaz de lidar com os problemas da vida, refugiava-me no álcool onde encontrei uma efémera felicidade, diverti-me fugazmente, intercalando tamanha felicidade com profundas depressões que me empurravam para a cama por dias infindos, de onde nem sequer saía para comer.
Nestas fases depressivas a vida deixava de fazer sentido, tendo por vezes tentado o suicídio sem sucesso, esperando simplesmente que a morte me levasse, sentido uma enorme desilusão ao acordar de misturas explosivas que fazia com álcool e medicação. Apenas uma vez, com muita pena minha na altura, fui salva pelo INEM.
A avaliar pelo que tenho sofrido com esta maldita doença, na altura roguei pragas a todos quantos me tentaram salvar a vida. Foram fases mais difíceis nume altura em que o diagnóstico estava a ser trabalhado e a medicação a tentar ser ajustada ao meu organismo.
Hoje, felizmente, confesso-me uma mulher feliz, com um casamento feliz, um Filho resplandecente de saúde e meiguinho, boas relações familiares e filiais, mas infelizmente doente.
Por muito que queira gritar ao mundo que a vida me corre de feição, que sou feliz, que moro onde quero morar, etc. e tal., não me posso confessar feliz com a maleita que tenho que me assola por terra, que me dilacera o corpo e me dá dores por todas as minhas entranhas, que me retira temporariamente a vontade de viver, que me põe a ver e a ouvir coisas que não existem e a questionar se vale a pena cá andar!
E é assim a vida ambígua de uma Bipolar que apesar de aceitar a doença, dava tudo para a não ter!

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