quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Porque uma mãe também é gente...


Há cinco anos que sou mãe de um rapazinho, bem enérgico, por sinal! Têm sido cinco anos de emoções diversas, sentimentos extremos, canseiras sem par e desafios julgados insuperáveis. Têm sido também cinco anos de responsabilidades acrescidas de quem tem a seu cargo o sustento de uma criança. Se para mim se pode desenrascar qualquer coisa, já para o M., nem por isso!
Têm sido também anos muito atarefados, pois quem tem crianças pequenas não pode falhar refeições, horários, rotinas diárias e afins. Tem também que fazer esforços para que a vida seja estimulante, colocando novos desafios à criança. Este ano, pela primeira vez, fiz o Calendário do Advento com vinte cinco atividades para fazermos em conjunto.
Estes últimos anos também me ensinaram muitas coisas a respeito da natureza humana e instinto de sobrevivência. Como não poderia deixar de ser, não alheio a minha função de mãe à perturbação Bipolar, pois ela está sempre patente, dando-me algumas tréguas pelo meio.
Estes últimos cinco anos têm sido também de muito ansiedade face ao mundo. Comecei a ver perigos a espreitar a cada esquina: os carros, os cães pastores, as pessoas más, os ladrões...
Nos últimos três anos, aprendi que ter filhos é dar-lhes asas para voar. A partir dos dois anos fui tentando que o M. fosse ganhando a sua autonomia. A muito custo comecei a deixá-lo brincar na horta sozinho e hoje já maneja a sua faca na cozinha, ajudando-me a cortar pequenos legumes. É com um sentimento agridoce que vejo o meu menino ganhar asas. Se gosto que ele se desenrasque sozinho, tenho muito medo de não conseguir (porque NÃO VOU CONSEGUIR) protegê-lo do mundo!
Estranhamente nunca olhei para o passado como a maioria das pessoas o olha: com saudade. O passado para mim, não passa disso mesmo, passado. Gosto de viver no presente e pensar pouco no futuro. Se tenho saudades do meu menino de colo? Nem por isso. Gostei de viver a sua primeira infância, gostei, não o nego. Mas também não nego que foram dois anos muito difíceis: privação de sono, cansaço, berros, choradeira, birras, fraldas, viroses: dependência completa! Por isso, não trago comigo saudades.
Os dias de hoje não são mais fáceis. Com a agravante de ter uma doença mental que me fragiliza psiquicamente, tenho que enfrentar o dia-a-dia com mil porquês, mil nãos, mil vá lá, mil mãe olha, mil mãe isto, mil mãe aquilo...
O M. tem energia e imaginação para dar e vender! Desde que acorda até que se deita não para quieto. Já para não falar da agitação dos seus mundos imaginários, próprios de uma criança que cresceu sem TV. Cá por casa não existe sossego enquanto o miúdo está. Não é uma criança capaz de se sentar a desenhar, por exemplo. Tem de estar sempre com a espada de laser a defender-se dos maus, a lutar com os robots imaginários, a preparar armadilhas ou qualquer outra coisa que implique muito movimento! Cá por casa o silêncio é sinal de que algo de muito errado se está a passar: ou está a fazer asneiras ou está doente!
Viver assim parece bom e idílico, mas não é. Claro que é uma bênção ter um filho enérgico com saúde para dar e vender. É maravilhoso, mesmo! Mas, para uma mente frágil, demasiado sensível aos barulhos e aos estímulos externos, é deveras cansativo! Se para trás ficaram as noites mal dormidas, hoje, por vezes, falta-me a energia e a saúde que tanto gostaria de ter para tornar o quotidiano mais fácil. Não será este um problema comum a todas nós, mães? Eu debato-me com a doença, outras mães terão outras questões que as levarão à exaustão de quando em vez.
A ambiguidade de sentimentos que tenho ao ver o pirralho constantemente aos saltos à minha volta leva-me, por vezes, a sentir-me culpada pelo cansaço que, por vezes arrasto comigo! É tão bom ter um filho transbordante de saúde e energia. No meu íntimo, culpo-me e acho-me uma bruxa má quando dou por mim a desejar que o meu Filho fosse mais calmo e parado! Mas a verdade é que não consigo deixar de me sentir bastante cansada em determinadas alturas...
Ter um filho pequeno é muitíssimo trabalhoso, quem diz que não é, mente! Muitos ou poucos, dão trabalho! Nas diferentes fases, revelam necessidades específicas, claro está. Importa dizer que a minha procissão ainda mal começou. Não me posso considerar uma mãe experiente, pois só tenho um e com poucos anos de vida. As minhas palavras são apenas e só, sintomáticas dos sentimentos despoletados pelas minhas experiências.
Ao longo destes cinco anos, várias foram as ocasiões e circunstâncias que me levaram a crer que não estaria a dar o meu melhor como mãe. Penso que este sentimento será comum a muitas de nós. Quem assumiu a maternidade verdadeiramente, procura dar o seu melhor, pelo que constatar que não o fez, faz cair em fracasso. Em vários momentos senti que fracassei.
Tudo nesta vida tem, no entanto, duas faces. A verdade é que o que dou de mim ao meu menino faz-me sentir feliz. As gargalhadas que lhe oiço põem cobro a qualquer sentimento menos feliz. E se há coisa que caracteriza o M., são as suas sonoras gargalhadas!
O caminho faz-se caminhando, e eu sei que vou dar muitos tropeções. Quem sabe se não um todos os dias, pelo menos. O importante é conseguir levantar-me e arrepiar caminho. E acima de tudo, ter presente que cada momento da maternidade é único e difícil, único e bom, único e desafiante...
Se há coisa que realmente posso assegurar é que desde que o M. nasceu, deixei de ter certezas e de saber exatamente como faria no futuro. Simplesmente deixei de dizer: se fosse comigo, fazia e acontecia... Hoje em dia, aguardo calmamente a ocasião e logo vejo se fracasso, ou não, mas nunca desistirei de tentar fazer o melhor que me seja humanamente possível. Por detrás desta mãe, está uma pessoa...

Sem comentários:

Enviar um comentário